quinta-feira

CONVITE: Debate Sobre Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Apodi-Mossoró.

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A equipe de Mobilização social solicita o apoio e a participação de todos os munícipes de Apodi e região para participarem de uma Palestra do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Apodi-Mossoró que acontecerá em Apodi no dia 26 de Outubro no auditório da Casa da Cultura às 08 horas, onde o poder público, a sociedade civil e os usuários de água, sendo eles, irrigantes, donos de açudes, poços, agricultores. O evento é aberto para todos os municípios: Almino Afonso, Campo Grande, Caraúbas, Felipe Guerra, Itaú, Janduís, Lucrécia, Martins, Messias Targino, Olho D"água do Borges, Patu, Rafael Godeiro, Riacho da Cruz, Rodolfo Fernandes, Severiano Melo, Umarizal, Viçosa são todos convidados.

Fonte: Informações repassadas por Márcia Egina.

quarta-feira

A silenciosa praga das lavouras.

Regiões agrícolas com forte uso de agrotóxicos têm mais suicídios e mortes por câncer.


A reportagem é de Carla Rocha, Fábio Vasconcellos Natanael Damasceno e publicado pelo jornal O Globo, 03-06-2012.



José Andrade teve câncer de pele no nariz e num braço, amputou um dedo e sofre de depressão. Com problemas de surdez, vive com a irmã Maria Geralda. Eles já perderam dois irmãos, vítimas de câncer.



Veneno em doses diárias



A s lesões vermelhas no rosto, que vez ou outra se espalhavam para braços e pernas, não o fizeram parar de roçar a lavoura. Era seu ofício desde os 15 anos, de sol a sol. Por anos, conviveu com crises, mais ou menos intensas. Teve que amputar o dedo indicador direito, que encaroçou como uma espiga de milho. Para as lesões num braço, quase no osso, precisou fazer enxertos de pele. A audição, frágil, evoluiu para uma quase surdez. Vinte e cinco anos depois de os sintomas surgirem, mais de 40 dias de internação e biópsias, José de Andrade, de 77 anos, descobriu que podia ser mais uma vítima do uso indiscriminado de agrotóxicos. Era só ele e a enxada, sem capa ou máscara. Às vezes, até sem galochas.



- A gente macerava o veneno, que era em pó, com a mão, antes de misturar na água. Depois sentava para almoçar. Durante 30 anos usei os produtos sem proteção. Pegava sol, chuva, tudo. Aplicava contra o vento; saía todo molhado. Não sabia do risco - conta o agricultor, que estudou muito pouco e não entendia as instruções do rótulo dos produtos.



Um levantamento do Globo com base em dados do Datasus e do IBGE revela que o Rio tem altas taxas de mortalidade por câncer e suicídio - que pesquisas científicas sugerem ter associação com o uso de agrotóxicos - em três regiões agrícolas. O mapa de ocorrências desses dois problemas coincide com as manchas de produtividade de tomate, escolhido para a pesquisa por ser uma das principais culturas do estado e ter apresentado alto índice de resíduos tóxicos nas últimas análises.



O Centro-Sul aparece na frente em mortes causadas por neoplasias, com 133 casos por cem mil habitantes (22% acima da média, que é de 109); depois vem a Região Serrana, com 125 (14%); e o Noroeste Fluminense com 117 (7%). Um detalhe salta das estatísticas: no Centro-Sul, onde estão grandes produtores de tomate, como Paty do Alferes, os índices são acentuados entre adultos de 40 a 49 anos. Nessa região, os índices estão mais de 52% acima da média do estado.



O suicídio é mais frequente no campo. Enquanto a taxa na Região Metropolitana é de 1,58 caso por cem mil habitantes, no Noroeste Fluminense chega a 5,89 (51% acima da média, que é de 3,9), a mais alta. Na Região Serrana, são 5,25 casos por cem mil (34%); e no Centro-Sul, 5,50 (41%).



No Brasil, agrotóxico movimenta US$ 7 bi



Maior consumidor mundial de venenos agrícolas, que, em 2010, movimentaram US$ 7,3 bilhões, o Brasil responde hoje por 10% do mercado internacional (mais de 900 mil toneladas por ano). As cifras são também de um mercado recheado de polêmicas, como a dos possíveis efeitos desses produtos, o que divide fabricantes e pesquisadores. Para entender a realidade que está por trás desses números, repórteres do Globo foram buscar a história contada pelos próprios agricultores.

O que José de Andrade relata é uma rotina marcada por uma mistura de necessidade extrema e ignorância absoluta sobre os efeitos prejudiciais dos agrotóxicos. Aos 40 anos, sem qualquer explicação para uma série de distúrbios psicológicos, ele saiu de seu pequeno sítio em Secretário, distrito de Petrópolis, e foi caminhando até Santana do Deserto, em Minas Gerais.


- Deu problema na mente. Um dia, saí andando sem querer voltar. Dormia no meio do mato. Depois de 40 dias, o pensamento assentou. Voltei para casa - conta.



Ele passou a beber em excesso e só aquietou das crises de depressão, durante as quais mal se levantava da cama, recentemente, depois de ser tratado no Centro de Tratamento Oncológico (CTO), hospital privado de Petrópolis, que atende pelo SUS. Ele teve alta depois de tratar um câncer num dedo, que perdeu após uma necrose, num braço e no nariz.



Dois irmãos de José morreram de câncer. Um que o ajudava na lavoura teve um tipo semelhante ao dele, amputou um braço e faleceu aos 50 anos. O outro, que não tinha contato direto com agrotóxicos, morreu aos 70, vítima de um câncer na garganta. Todos foram criados em áreas de plantações.



Estudioso do assunto - que já teve mais de 30 artigos científicos publicados -, Armando Meyer, professor adjunto e diretor do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC) da UFRJ, fez parte de uma equipe que, em 2003, constatou um risco maior de morte por câncer de esôfago e estômago entre agricultores da Região Serrana em relação às populações do Rio e de Porto Alegre, que registram altas taxas da doença. Dependendo da idade, o agricultor chegava a ter 300% mais chance de morte.



- O poder econômico e político do agronegócio no país é imenso. Os primeiros passos que tornaram o Brasil um jogador pesado do agronegócio foram dados nos anos 70, quando um decreto do governo determinou que uma parte do financiamento agrícola deveria ir para compra deste tipo de insumo. E o segmento não para de crescer em países como Brasil, China, Índia e Rússia. A situação de hoje ainda é o legado do passado - observa Meyer. - O agricultor usa o produto de forma errada. A culpa não é dele, mas do governo.



Professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Unicamp e pesquisador dos efeitos do agrotóxico,Ângelo Trapé analisou os dados obtidos pelo Globo e não considerou as relações um indicativo importante:



- Estudos epidemiológicos que investigam supostas relações entre câncer e agentes ambientais são longos, até de décadas. Não é possível qualquer correlação com os dados apresentados. Além disso, não há um estudo clínico epidemiológico que indique que são cancerígenos os agrotóxicos registrados no país, aos quais aquelas populações poderiam estar potencialmente expostas.



Desde 2000, a Anvisa já retirou de circulação 11 ingredientes ativos de agrotóxicos considerados nocivos à saúde. Dois são analisados com indicações de banimento e 17 estão à venda com restrições. O gerente geral de toxicologia do órgão, Luiz Cláudio Meirelles, explica que o país lida com um passivo que exige uma série de estudos e avaliações até a retirada de um produto do mercado. Para ele, os dados obtidos pelo Globo merecem ser investigados:



- Há uma grande preocupação em torno dos efeitos crônicos a longo prazo, no agricultor e no consumidor. Alguma coisa acontece nessas áreas do interior para registrar taxas de câncer acima da média. O levantamento aborda uma questão importante.



O lavrador Oséias de Oliveira Rodrigues morreu devido a um câncer no cérebro em 2009, aos 37 anos. Ele estava na lavoura desde os 8 anos e deixou dois filhos. Segundo sua irmã, Maria José Rodrigues, de 51 anos, nunca usou proteção durante a pulverização dos produtos na lavoura em Teresópolis:



- Ele sentia dores de cabeça e tontura mas, nos postos de saúde, receitavam dipirona e remédios para enjoo. Nunca associaram as dores ao veneno. Sequer perguntavam em que ele trabalhava.



Responsável pelo departamento de Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho e ao Ambiente do Instituto Nacional do Câncer, Ubirani Otero afirma que o país precisa vencer o "silêncio epidemiológico".



- O profissional de saúde atende um paciente com câncer e não pergunta em que ele trabalha. Mais de 50% das pessoas com câncer na Serra se tratam no Inca - afirma Otero, que costuma dizer que agricultores tomam "banho" de agrotóxico.



Breno Braga, médico do Programa Saúde da Família que trabalha há oito anos na localidade de Vargem Alta , no distrito de São Pedro da Serra, em Nova Friburgo, diz que ligou casos de pacientes com depressão e suicídio a venenos agrícolas. Maior produtora de flores do Rio, a cidade tem plantações com uso intenso de agroquímicos.



- É muito difícil estabelecer uma relação de causa e efeito, mas a localidade registra muitos casos de depressão e suicídio, que impressionam porque atingem jovens entre 20 e 30 anos. É muito comum eles beberem o próprio agrotóxico - afirma Braga.

Fonte: Site IHU

Transposição do São Francisco tem mais dois lotes parados



O festival de complicações que atingem o projeto de transposição do rio São Francisco ganhou mais um problema. As obras em outros dois lotes foram interrompidas, nos últimos dias, pelos consórcios das empreiteiras responsáveis. De acordo com o Ministério da Integração Nacional, que comanda o projeto, a decisão de paralisar as obras foi tomada "unilateralmente" pelas empresas. O motivo não foi informado.
A reportagem é de Daniel Rittner e publicada pelo jornal Valor, 24-10-2012.

Ambos os lotes fazem parte do eixo leste da transposição, no interior de Pernambuco e da Paraíba, e têm conclusão prevista até o quarto trimestre de 2014. A promessa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era entregar as obras até o fim de 2010, beneficiando 12 milhões de pessoas no Nordeste, mas uma sucessão de dificuldades foi jogando o prazo cada vez mais para a frente. Até serviços executados pelo Exército foram alvo de irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Em agosto, a Integração Nacional rescindiu o contrato de um trecho tocado por um consórcio que tinha a Delta Construção, pivô do escândalo que resultou na CPI do Cachoeira, entre suas integrantes.

Agora, foram paralisados os lotes 10 e 12, que já passando por uma desaceleração gradual dos trabalhos. O lote 10, com investimentos de R$ 274 milhões, tem 55,7% dos serviços já executados e é tocado pelo consórcio Emsa / Mendes Jr. As obras, concentradas em Pernambuco, somam 39 quilômetros de extensão e englobam canal, aqueduto, pontes e reservatório. Foram desembolsados R$ 186 milhões até hoje.

O lote 12 tem 28 quilômetros de extensão e registra 33% de avanço físico. Com investimento total de R$ 179,1 milhões, já foram pagos R$ 140 milhões. As obras envolvem canais e túnel, dividindo-se entre Pernambuco e Paraíba. OASGalvãoBarbosa Mello e Coesa formam o consórcio responsável pelos trabalhos.

O ministério informou ter notificado as empresas para que retomem "imediatamente" a execução das obras e advertiu sobre a possibilidade de aplicar "as devidas sanções legais", sem entrar em detalhes. Os contratos estão vigentes. "As empresas devem, conforme estipulado, entregar os serviços executados em perfeito estado", alertou o ministério.

Orçada em R$ 8,2 bilhões por enquanto, a transposição do São Francisco ainda não tem uma projeção definitiva de custos, já que outras cinco licitações complementares devem ser feitas nos próximos meses. As concorrências abrangem lotes que tiveram obras interrompidas nos municípios de Salgueiro (PE), Verdejante (PE), Mauriti (CE), São José de Piranhas (PB) e Floresta (PE). Elas estavam prometidas para este ano, mas os editais ainda não saíram, o que pode atrapalhar ainda mais o cronograma do projeto.

Dos 16 lotes que formam o projeto de transposição do São Francisco, sete estão em atividade e um já foi concluído - o canal de aproximação do eixo norte, em Cabrobó (PE), tocado pelo Departamento de Engenharia e Construção (DEC) do Exército.

Em agosto, foi concluída uma nova licitação para as obras do lote 5, com um contrato de R$ 520 milhões. A concorrência foi vencida pela Serveng Civilsan.

A transposição, batizada formalmente de projeto de integração do rio São Francisco com as bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional, visa assegurar a oferta de água a 391 municípios de quatro Estados: Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Atualmente, mais de quatro mil trabalhadores estão nos canteiros, segundo o ministério.

O projeto prevê a retirada contínua de 26,4 metros cúbicos por segundo de água, o equivalente a 1,42% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho, dos quais 16,4 m3 /s seguirão para o eixo norte e 10 m3 /s para o eixo leste. Nos anos em que o reservatório de Sobradinho estiver com excesso de água, o volume captado poderá ser ampliado para até 127 m3 /s, aumentando a oferta de água para múltiplos usos.

Após sucessivos ajustes nos cronogramas, a previsão do governo para a entrega do eixo leste é no fim de 2014. No eixo norte, a estimativa é o fim de 2015. Mesmo assim, há quem considere esses prazos otimistas demais.

Fonte: Site IHU.

RN. Projeto do perímetroirrigado da chapada do Apodi. Um contrassenso.


Entrevistaespecial com Antonio Nilton Bezerra Júnior

“Essaluta não é apenas dos camponeses e camponesas de Apodi. A luta em defesa daChapada do Apodi se tornou uma luta nacional de todos aqueles e aquelas quedefendem a dignidade das comunidades camponesas”, diz o sociólogo.

Confira a entrevista.
Na chapada do Apodi,localizada na divisa dos estados do RioGrande do Norte e do Ceará,há uma “disputa por dois modelos de agricultura”, diz Antonio Nilton Bezerra Júnior,da Comissão Pastoral da Terra de Mossoró à IHU On-Line. Um dos modelos está“enraizado” nas comunidades da região, e tem uma preocupação com abiodiversidade, a distribuição de renda e democratização da água e da terra. Ooutro, ao contrário, “provoca a concentração de terra, de água e de renda, quedestrói a natureza, polui as águas e o solo, destrói a vida”.
Segundo Bezerra Júnior,a subsistência de milhares de famílias que trabalham com a agricultura epecuária está ameaçada pelo projeto “PerímetroIrrigado de Apodi”, que prevê entregar as “terras da chapada do Apodi e aágua da barragem deSanta Cruz, que tem capacidade de armazenar 600 milhões demetros cúbicos, a cinco grandes empresas da fruticultura irrigada”. Para ele, oprojeto é inviável e o governo, apesar de reconhecer que “os perímetrosirrigados do Nordeste não foram viáveis”, insiste na iniciativa. “Dados dopróprio governo mostram que há no Nordeste mais de 140 mil hectares de terrasem perímetro irrigados ociosos, sem funcionar”, argumenta. E dispara: “Queremtransformar um território camponês produtor de alimentos saudáveis em uma zonade produção de frutas para exportação com base na utilização em grande escalade agrotóxicos. E, com isso, transformar uma pequena parcela da população localem mão de obra barata e em condições sub-humanas, características doagronegócio brasileiro”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, o sociólogo assinala que oprojeto “PerímetroIrrigado de Apodi” é uma iniciativa do deputado Henrique Alves (PMDB –RN). “Em uma visita ao município de Apodi chegou a afirmar que o projetode irrigação irá sair porque ele tem poder, que a presidenta Dilma precisado seu apoio, pois ele é líder de 80 deputados, e a partir de fevereiro de 2013será o presidente da Câmara dos Deputados. Essas afirmações de demonstração desoberba são constantes”, assinala.
Antonio Nilton BezerraJúnior é sociólogo e membro da Comissão Pastoral da Terra – CPTde Mossoró-RN.


Confira a entrevista.

IHU On-Line – Na chapadado Apodi, localizada na divisa entre os estados do Rio Grande do Norte e doCeará se trava uma intensa disputa entre agricultores e o agronegócio. O queestá em jogo nessa região?

Antonio Nilton BezerraJúnior – Está muito clara a disputa por dois modelos deagricultura. Um que preserva a vida, a biodiversidade, que distribui renda,democratiza a terra e a água, ou seja, que tem como objetivo principal areprodução da vida. Esse modelo está enraizado nas diversas comunidadesda Chapada, seja nas áreas de assentamentos da reforma agrária oucomunidades de pequenos agricultores e agricultoras. Essas comunidades eassentamentos vêm demonstrando que é possível viver bem no campo, produzindoalimentos saudáveis apesar do pouco investimento por parte dos governos. Poroutro lado, há outro modelo que provoca a concentração de terra, de água e derenda, que destrói a natureza, polui as águas e o solo, destrói a vida. Essemodelo tem como principal objetivo o lucro das grandes empresas em detrimentoda vida dos camponeses e camponesas. Portanto, o que está em jogo é a água, aterra fértil, a biodiversidade, a vida das pessoas.

IHU On-Line – Qual é aimportância da chapada do Apodi para a agricultura do Rio Grande do Norte. Quemsão os agricultores que se encontram no território, o que produzem e quetécnicas de cultivo utilizam?

Antonio Nilton BezerraJúnior – O município de Apodi, no Rio Grande do Norte, tem na agriculturasua principal atividade econômica. Uma característica dessa agricultura é queela está praticamente nas pequenas propriedades camponesas. Toda a produçãoagrícola e pecuária de Apodiestá nas pequenas propriedades. É na Chapada do Apodique está a segunda maior produção de mel de abelha do Brasil, um dos maioresrebanhos de caprinos do país. Na chapadado Apodi vivem hoje milhares de famílias que têm na agriculturae pecuária a sua principal atividade. São nas comunidades e nos assentamentosda Chapada do Apodique diversas experiências de produção agroecológicas estão sendo desenvolvidas.Tudo isso faz com que o município de Apoditenha o terceiro PIB agropecuário do Rio Grande do Norte,estando à frente de municípios que têm a forte presença do agronegócio como Assú, Ipanguassu, Carnaubais, Baraúna, além deoutros. E repito: toda a produção agropecuária do município de Apodi está naspequenas propriedades dos camponeses e camponesas. Essa população camponesa deApodi há vários anos vem desenvolvendo técnicas de produção agroecológicas.Destacamos a produção e beneficiamento do mel de abelha, a produção de algodãoorgânico, arroz orgânico, produção de polpas de frutas da região etc. Tudo issofaz de Apodi umareferência em agricultura agroecológica.

IHU On-Line – O quepropõe o projeto apresentado pelo governo para a Chapada do Apodi?

Antonio Nilton BezerraJúnior – Esse projeto do perímetro irrigado da Chapada do Apodi é umcontrassenso a tudo o que hoje se constrói na chapada e se discute no mundo. Éum projeto que prevê entregar as terras da chapada do Apodi e a água da barragem de Santa Cruz,que tem capacidade de armazenar 600 milhões de metros cúbicos, a cinco grandesempresas da fruticultura irrigada. É um projeto que não deu certo em lugaralgum. O próprio governo reconhece que os perímetros irrigados do Nordeste nãoforam viáveis. Dados do próprio governo mostra que há no Nordeste mais de 140mil hectares de terras em perímetro irrigados ociosos, sem funcionar. Esseprojeto está propondo irrigar cinco mil hectares de terra em sua primeira fasepara produzir cacau – que é totalmente desconhecido na região –, uva, goiaba,com base na utilização em grande escala de agrotóxicos e sob o domínio de cincogrande empresas. Querem transformar um território camponês produtor dealimentos saudáveis em uma zona de produçãode frutas para exportação com base na utilização em grande escala deagrotóxicos. E, com isso, transformar uma pequena parcela da população local emmão de obra barata e em condições sub-humanas, características do agronegóciobrasileiro.

IHU On-Line – Quaisserão os principais impactos ambientais e sociais se o projeto for executado?

Antonio Nilton BezerraJúnior – Em primeiro lugar, terá a expulsão de centenas defamílias de suas terras, fazendo com que comunidades inteiras desapareçam. Issoirá causar graves problemas sociais no município e região. Basta ver o exemploda Chapada do Apodipelo lado do Ceará, nos município de Limoeirodo Norte e Russas.Aumentarão também a prostituição, o número de pessoas com câncer, o trabalhoprecarizado etc. Por outro lado, haverá fortes impactos ambientais, como odesmatamento da Caatinga,a contaminação das águas e do solo, a morte das abelhas, o desaparecimento dosanimais silvestres etc.

IHU On-Line – Quais sãoas principais irregularidades do projeto?

Antonio Nilton BezerraJúnior – São várias as aberrações. Em primeiro lugar, asfamílias que serão removidas de suas comunidades não foram consultadas. No Relatório de Impacto Ambiental –EIA-RIMA não se fala na remoção de famílias; é como se no localnão existissem pessoas. Ele também não leva em conta a produção agropecuária,omite os impactos dos agrotóxicos para a população local, não faz nenhumareferência à questão da saúde humana. Na área existe um sítio arqueológico, Lajedo de Soledade,que também passa despercebido pelo EIA-RIMA.Além disso, especialistas questionam a viabilidade desse projeto, pois acapacidade da barragem não é suficiente para irrigar cinco mil hectares. Alémdo mais, existem outros projetos vinculados à barragem, como duas adutoras queirão abastecer dezenas de cidades da região.

IHU On-Line – Por que asorganizações sociais da região afirmam que o projeto se trata
de uma “reforma agráriaao contrário”?

Antonio Nilton BezerraJúnior – Isso está muito claro. O decreto desapropria13.855 hectares. Toda essa terra está hoje localizada em pequenas propriedades.Com o projeto haverá uma concentração de terra por cinco grandes empresas. Naregião, nos anos 1990, ocorreram muitas desapropriações para a reforma agrária.Ocorreu uma descentralizaçãoda terra e a constituição de um território camponês. Caso esse projeto sejaaprovado, tudo isso vai por “água abaixo”. Se fizermos um comparativo comdesapropriação para a reforma agrária, teremos clareza da dimensão desastrosadesse projeto para com a reforma agrária. Nos últimos sete anos, último mandatodo governo Lula einício do mandato de Dilma, no Rio Grande do Norte, a desapropriação parareforma agrária praticamente não aconteceu. Com o decreto para o projeto doperímetro irrigado, destinado às cinco grandes empresas, tiram-seaproximadamente 14.000 hectares das pequenas propriedades. É um contrassensomuito grande. Uma estupidez.

IHU On-Line – Quem é queestá por trás do projeto e a que interesses atende?

Antonio Nilton BezerraJúnior – O principal defensor desse projeto até agora temsido o deputado federal HenriqueAlves (PMDB/RN), líder do partido na Câmara. O diretor geral doDepartamento Nacional deObras Contras as Secas – DNOCS é indicação sua. Ele tempressionado muito o governo federal para que essa obra seja executada. O grandeinteressado nesse projeto é o agronegócio. Mas há também interesse por partedas empresas da construção que irão construir o canal. Com certeza há muitosinteresses nada republicanos envolvidos nessas grandes obras. É bom lembrarque, no mês de janeiro deste ano, aControladoriaGeral da União – CGU divulgou um relatório, fruto dafiscalização em projetos do DNOCS, e constatou várias irregularidades que,segundo ela, causou um prejuízo de aproximadamente 300 milhões aos cofrespúblicos. Desses projetos que apresentaram irregularidades estavam vários emexecução no Rio Grandedo Norte. Foram constatadas também diversas irregularidades noperímetro irrigado da Chapadado Apodi no lado do Ceará, Limoeiro do Norte e Russas. Foramconstatados superfaturamentos nas obras, pagamento de serviços sem seremexecutados, empresas fantasmas etc. Esse escândalo derrubou o então diretorgeral do DNOCS,apadrinhado político do deputadoHenrique Alves. O que nos estranha é que antes de qualquerexplicação a respeito dessas irregularidades, o mesmo deputado consegue indicarum novo apadrinhado seu para o cargo de diretor geral, como se não tivesse nadaa explicar.

IHU On-Line – É verdadeque o deputado Henrique Alves (PMDB/RN) se orgulha de dizer
nas rádios da região queo projeto de irrigação do Apodi sairá porque ele manda na presidente Dilma:“Ela come na minha mão!”, diz ele?

Antonio Nilton BezerraJúnior – Constantemente o deputado Henrique Alvesprocura demonstrar que tem influência no governo Dilma. Em uma visitaao município de Apodi chegou a afirmar que o projeto de irrigação irá sairporque ele tem poder, disse que a presidente Dilma precisa do seu apoio, pois ele élíder de 80 deputados. Afirmou que a partir de fevereiro de 2013 será opresidente da Câmara dos Deputados. Essas afirmações de demonstração de soberbasão constantes.

IHU On-Line – Como seencontra no momento a execução do projeto?

Antonio Nilton BezerraJúnior – O projeto se encontra na fase de pagamento deindenizações para as famílias que irão ser atingidas pela construção do canal.Segundo o DNOCS,35 propriedades serão atingidas nessa fase. A ordem de serviço já foi assinada.

IHU On-Line – Como osagricultores estão organizados para resistir ao projeto?

Antonio Nilton BezerraJúnior – Existe uma unidade de todos os movimentos sociaisem se contrapor a esse projeto, e um compromisso de resistir a suaimplementação. Estamos trabalhando em três frentes de atuação: junto com ascomunidades locais, trabalhando a conscientização das famílias e organizando aresistência; questionando judicialmente a execução do projeto, visto que eleapresenta diversas irregularidades; e dialogando com a sociedade sobre o queestá ocorrendo em Apodi,demonstrando os desmandos com o meio ambiente e a vida da população.

IHU On-Line – Gostariade acrescentar algo?

Antonio Nilton BezerraJúnior – Gostaria de dizer que essa luta não é apenas doscamponeses e camponesas de Apodi.A luta em defesa daChapada do Apodi se tornou uma luta nacional de todos aqueles eaquelas que defendem a dignidade das comunidades camponesas. Essa luta estásintonizada com outras grandes lutas que estão sendo travadas pelo Brasil emdefesa dos territórios camponeses.

segunda-feira

Agrotóxicos matam abelhas e prejudicam polinização, diz estudo.



Do O Estado de S. Paulo
Pesticidas estão matando abelhas operárias e prejudicando sua alimentação, conclui estudo na revista Nature que mostra que essas colônias, vitais para a polinização, têm maior probabilidade de sucumbir na presença dessas substâncias.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que um terço de todos os alimentos de origem vegetal dependem da polinização das abelhas. Cientistas têm se preocupado com a queda do número de abelhas em tempos recentes, principalmente na América do Norte e na Europa.

Pesquisadores britânicos expuseram, por quatro semanas, colônias formadas por 40 abelhas mamangava - maiores que as abelhas de mel comuns - aos pesticidas neonicotinoide e piretroide.

No grupo exposto, dois terços das abelhas se perderam (morreram ou não retornaram). No grupo controle, apenas um terço se perdeu. Além disso, as abelhas que receberam os pesticidas só conseguiram colher cerca de metade do pólen em comparação com as outras abelhas.

Os achados ressaltam a importância de testes mais amplos, para assegurar que os pesticidas não atinjam também as abelhas.