segunda-feira

Cidade "exemplo" do agronegócio contamina leite materno.

Por Inês Castilho
Do Outras Palavras
 

Ao abrir nesta terça-feira (11/2), numa cerimônia em Lucas do Rio Verde (MT), a safra de grãos 2013-14, a presidente Dilma Roussef não se conteve. Entusiasmada com a perspectiva de uma colheita recorde, de 193,6 milhões de toneladas, lembrou o crescimento de 221% em vinte anos e afirmou que “o agronegócio brasileiro é exemplo de produtividade para o país”.
     
Será? Ao escolher Lucas do Rio Verde como local da cerimônia de saudação a este modelo, talvez Dilma não soubesse que estava dando um tiro no pé. Como louvar alimentos que envenenam a fonte mesma da vida? Mais: há muito se analisam como ilusórios os números de “produtividade”. O agronegócio gera dólares, mas eles concentram-se nas mãos de muito poucos. A monocultura mecanizada emprega cada vez menos trabalhadores. O uso maciço de pesticidas polui terra e rios, intoxica trabalhadores e comunidades e, exatamente ali, envenena leite materno. Tudo somado, são perdas incomensuráveis para os ultra ricos.

Escolhida como vitrine da safra por ser “representativa da agricultura”, Lucas do Rio Verde, 355 quilômetros ao norte da capital, Cuiabá, é dos municípios do país que mais cultivam a monocultura de soja, milho e algodão. Em 2010, foram plantados 420 mil hectares e pulverizados 5,1 milhões de litros de agrotóxicos nas plantações, atingindo o entorno do município, córregos, criação de animais. Cada habitante esteve exposto a 136 litros anuais de agrotóxicos, “quase 45 vezes maior que a média nacional — de 3,66 litros”.

Desde 2006, quando um acidente por pulverização aérea contaminou a cidade, ela passou a integrar a pesquisa “Impacto dos Agrotóxicos na Saúde do Ambiente na Região Centro-Oeste”, coordenada pelo médico e doutor em toxicologia Wanderlei Pignati, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – e realizada em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás entre 2007 e 2010, como parte de um projeto nacional. O estudo referente às mães coube à mestranda da UFMT Danielly Palma.

“Minha pesquisa foi um subprojeto de uma avaliação que foi realizada em Lucas do Rio Verde e eu fiquei responsável pelo indicador leite materno. Mas a pesquisa maior analisou o ar, água de chuva, sedimentos, água de poço artesiano, água superficial, sangue e urina humanos, alguns dados epidemiológicos, má formação em anfíbios” – contou Danielly à repórter Manuela Azenha, que no início de 2011 foi a Cuiabá assistir à defesa da tese sobre o impacto dos agrotóxicos em 62 nutrizes de Lucas do Rio Verde. O estudo integra o Dossiê Abrasco – Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde, divulgado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva em 2012. Radiografias de anfíbios com malformações coletados em lagoas e córregos podem ser conferidas aqui.

“A pesquisa revelou que 100% das amostras indicam a contaminação do leite por pelo menos um agrotóxico. Em todas as mães foram encontrados resíduos de DDE, um metabólico do DDT, agrotóxico proibido no Brasil há mais de dez anos. Dos resíduos encontrados, a maioria são organoclorados, substâncias de alta toxicidade, capacidade de dispersão e resistência tanto no ambiente quanto no corpo humano” – relatou a pesquisadora.

“Todas essas substâncias têm o potencial de causar má formação fetal, indução ao aborto, desregulamento do sistema endócrino — que é o sistema que controla todos os hormônios do corpo — então pode induzir a vários distúrbios. Podem causar câncer, também. Esses são os piores problemas.”

Talvez ignorante de fatos tão dramáticos, Dilma Roussef foi além. Conclamou empresários, prefeitos e população (!) a pavimentar ainda mais o caminho do agronegócio, desregulamentando-o. Tem papel demais nesse país, disse, “temos de simplificar os processos”, “acabar com a multiplicidade das exigências desnecessárias”, “não para destruir o meio ambiente, pelo contrário (…)”.

A fala escancara o óbvio: o agronegócio está nadando de braçada no (des)governo de nosso meio e de nossos corpos.

Milhões de abelhas morrem por causa de agrotóxicos da Bayer e Syngenta


Do SeattleOrganicRestaurants*



Um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, dos EUA, mostra que a classe de pesticidas neonicotinoide e a clotianidina afetam, de modo adverso, o sistema imunológico das abelhas ao promover nelas a replicação de um patógeno viral.

De acordo com os cientistas italianos, autores do estudo, uma molécula é desencadeada pelos pesticidas neonicotinoides de que forma que possa prejudicar a colônia de abelhas. Os pesquisadores descobriram que o inseticida neonicotinoide clotianidina pode aumentar os níveis de proteína específica nas abelhas e afetar negativamente a resposta do sistema imunológico além de torná-las mais suscetíveis de serem atacadas por vírus e patógenos prejudiciais.

Francesco Pennacchio, principal autor do estudo, descobriu que a proteína de repetição rica em leucina poderia afetar negativamente a atividade de uma proteína envolvida nas abelhas, conhecida como NF-κB, sinalizador imunológico. Quando as abelhas são expostas ao inseticida neonicotinoide clotianidina, há um aumento significativo na melhoria da codificação do gene de proteína de repetição rica em leucina que suprime o sinalizador imunológico NF-κB.

Os pesquisadores encontraram que outras classes dos neonicotinoides, tais como o imidacloprid e o tiametoxam, também afetam o sistema imunológico das abelhas, embora inseticidas como o organofosforado clorpirifós não afetam o sinalizador imunológico NF-κB.

Quando os pesquisadores infectaram as abelhas com um patógeno comum, conhecido como o vírus deformador da asa, descobriram que ele ataca o sistema imunológico no momento em que as abelhas são expostas ao inseticida neonicotinoide clotianidina ou imidacloprid. Embora o vírus seja muito comum nas abelhas, o sistema imunológico delas o mantém ineficiente e sob controle.

Segundo um dos pesquisadores, Francesco Nazzi, o “efeito relatado sobre a imunidade exercida pelos neonicotinoides permitirá testes toxicológicos adicionais – a serem definidos – no intuito de avaliar se a exposição crônica das abelhas a doses subletais de agroquímicos poderá afetar, de modo adverso, o seu sistema imunológico e suas condições de saúde. Além disso, nossos dados indicam a possível ocorrência nos insetos, por exemplo os invertebrados, de uma modulação neural da resposta imunológica. Este fato prepara o terreno para estudos futuros nesta área de pesquisa e apresenta a questão sobre como as substâncias neurotóxicas podem afetar a resposta imunológica”.

As gigantes da biotecnologia Bayer e Syngenta, que fabricam os neonicotinoides, estão gastando milhões de dólares com lobistas para impedir a proibição desta substância nos EUA, além de terem processado a Comissão Europeia pelo banimento destas classes de pesticidas

Enquanto os países da União Europeia puseram uma suspensão de três anos para a classe de pesticidas neonicotinoide, incluindo o tiametoxam, o clotianidina e o imidacloprid, o Ministério de Agricultura dos Estados Unidos não conseguiu banir estas classes de pesticidas que estão matando milhões de abelhas. Tenhamos em mente que o ministro americano da Agricultura, Tom Vilsack, é o ex-governador pró-biotecnologia do estado de Iowa, premiado como o Governador do Ano pelas empresas de biotecnologia.

As gigantes da área biotecnológica, Bayer e Syngenta, que fabricam os neoniconinoides, estão gastando milhões de dólares para evitar a suspensão desta substâncias, além de terem processado a Comissão Europeia pelo banimento destas classes de inseticidas.

Estas empresas também colocaram milhares de documentos falsos na internet, enganando a todos ao divulgar que os neonicotinoides são perfeitamente seguros e que outros problemas, incluindo a falta de biodiversidade e o crescimento dos patógenos, é que são as principais causas por trás do declínio das abelhas.

As empresas Monsanto, Syngenta, Bayer, DuPont e Dow estão mentindo. Transgênicos tratados com neonicotinoides estão relacionados com colapso das abelhas, e 94% do milho nos EUA são tratados ou com pesticida imidacloprid ou com pesticida clotianidina

Na verdade, a maioria do milho e da soja geneticamente modificados são tratados com pesticidas neonicotinoides e, recentemente, mais de 37 milhões de abelhas caíram mortas no Canadá depois que grandes campos de milho transgênico foram plantados e tratados com a substância.

Além disso, não obstante as falsas promessas da biotecnologia de que as culturas transgênicas iriam reduzir o uso de pesticidas, a verdade é que desde a introdução dos organismos geneticamente modificados o uso de pesticidas aumentou em 500 milhões de libras.

Na verdade, segundo a Rede de Ação em Pesticida da América do Norte (PANNA, na sigla em inglês), 94% das sementes de milho dos EUA são tratadas ou com a substância imidacloprid ou com a clotianidina e, em consequência, as abelhas são submetidas a uma carga tóxica de neonicotinoides cada vez maior nos campos de milho.

Mais e mais estudos mostram o efeito adverso dos neonicotinoides sobre o sistema imunológico das abelhas

Embora as empresas Syngenta e Bayer estejam tentando disseminar informações enganosas ao colocar a biodiversidade e os patógenos como as principais causas do declínio das abelhas, estudos científicos independentes vincularam principalmente os neonicotinoides ao colapso das colônias de abelhas.

Num estudo publicado na revista Science, o autor principal e professor de biologia da Universidade de Sussex, Dr. Dave Goulson, diz que a “exposição a pesticidas neonicotinoides, que são uma neurotoxina em essência, estava afetando a capacidade das abelhas de aprender, de encontrar o caminho de volta para casa, de navegar, de coletar alimento, e assim por diante, o que não é surpreendente se acaso percebermos se tratar de neurotoxinas. (...) O que encontramos, e que tenho que confessar ter sido surpreendente em seu âmbito, foi que os ninhos tratados cresceram mais lentamente, porém, de forma mais dramática, o efeito sobre a produção da rainha foi realmente forte. Assim, tivemos uma queda de 85% na produção dos ninhos da rainha que foram expostos durante um período de apenas duas semanas a concentrações bastante baixas destes pesticidas em comparação com os ninhos de controle”.

Chegou a hora de pôr de lado a ganância corporativa e proibir o uso dos neonicotinoides que estão destruindo milhões de abelhas e borboletas

Cerca de 87% das plantas são polinizadas por abelhas e se não fizermos algo quanto ao fato de que as culturas transgênicas tratadas com os neonicotinoides constituem a principal razão do colapso das colônias de abelha, então iremos estar dando um tiro no próprio pé e começando uma reação em cadeia em que muitas plantas e espécies morrerão em consequência.

A comunidade científica e os biólogos dizem que se as abelhas desaparecerem, iremos somente ter só mais alguns anos de vida, já que a reação em cadeia começará a erradicar certas espécies devido à falta de polinização e afetará culturas de passarinhos e assim por diante.

Atualmente, o apicultor está perdendo 50% de suas colmeias e, em vez de proporem uma proibição imediata às culturas geneticamente modificadas e aos neonicotinoides, nossas autoridades permitem que as gigantes da biotecnologia – incluindo a Monsanto, a Syngenta e a Bayer – gastem bilhões de dólares promovendo e vendendo seus inseticidas tóxicos e alimentos transgênicos.

A prioridade de corporações como Syngenta e Bayer não é proteger as abelhas e outros polinizadores, mas proteger seus lucros a partir da produção de inseticidas neonicotinoides. Só no ano de 2012, as vendas da Syngenta com a substância tiametoxam cresceram e excederam as cifras de mais de um bilhão de dólares. Como isso pode ser permitido? E como uma sociedade pode tolerar isso que elas têm feito?