quinta-feira

Agricultores de Apodi/RN conhecem de perto o perigo do agronegócio ao participar de Romaria em Limoeiro do Norte/CE.

No ultimo dia 21 de Abril uma delegação composta por mais de 50 agricultores e agricultoras do município de Apodi estiveram participando da 4ª Semana Zé Maria do Tomé, que acontece na comunidade de Tomé localizada no município de Limoeiro do Norte/CE.
As atividades da Semana Zé Maria do Tomé são organizadas pelo Movimento 21 que se articulou na Chapada do Apodi/CE depois do assassinato do Camponês José Maria, que criticava veementemente o uso demasiado dos agrotóxicos pelas empresas do agronegócio que estão instaladas.
A Caravana de agricultores do município de Apodi teve a oportunidade de conversar com agricultores residentes da Comunidade de Tomé, onde foi relatado que o perímetro irrigado instalado por lá está servindo somente ao grande capital, e que dezenas de famílias vivem a margem do processo que foram excluídos pelas empresas do agronegócio ao decorrer da implantação de tal perímetro Irrigado.

MAIS SOBRE ZÉ MARIA DO TOMÉ
Zé Maria foi assassinado com mais de vinte tiros, à queima roupa, próximo a sua residência, na comunidade de Tomé, zona rural de Limoeiro do Norte (CE). O defensor de direitos humanos destacou-se na luta contra a pulverização aérea de agrotóxicos, na Chapada do Apodi, Ceará. Essa atividade, promovida por grandes empresas do agronegócio, causa a contaminação da água, plantações e solo das comunidades da região. Além disso, provoca diversas doenças nos trabalhadores das empresas e moradores. Essas denúncias encontraram repercussões em ações judiciais, procedimentos do Ministério Público (Estadual, Federal e Trabalhista) e em inúmeras pesquisas acadêmicas.

No dia 21 de abril de 2010, o defensor de direitos humanos foi assassinado, a poucos metros da sua casa, em típica ação de pistolagem. A lei que proibia a pulverização aérea foi revogada em dia 20 de maio de 2010, um mês após o assassinato de Zé Maria.


FOTOS DA ROMARIA:



















Fotos de Talvacy Chaves e Ana Flávia Fernandes.

Agricultores de todo Brasil irão se encontrar em Juazeiro da Bahia para discutir agroecologia.

 
O III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA) será realizado de 16 e 19 de maio de 2014, em Juazeiro (BA), com o lema “Cuidar da Terra, Alimentar a Saúde, Cultivar o Futuro”. Cerca de 2 mil pessoas de todo o país, dentre elas 70% agricultoras e agricultores, e diversos segmentos da sociedade, participarão de seminários, debates e atividades culturais. Encontros como este são espaço de organização e pressão política fundamentais para a expressão democrática de uma significativa parcela da sociedade brasileira.
O evento organizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), com a participação de diversas entidades que compõe esta rede, além de movimentos sociais do campo, da saúde, da economia solidária e do feminismo, é o resultado de um processo de mapeamento e visita a experiências concretas por meio de Caravanas Agroecológicas e Culturais, que começaram em 2013.
Programação variada - O centro do III ENA será a “Feira de Saberes e Sabores”, espaço aberto aos moradores de Juazeiro e região, com produtos agroecológicos da agricultura familiar e das populações tradicionais de todo o país. Lugar ideal para a troca de mercadorias, para conversa e amizade, e sobretudo ambiente propício à troca de conhecimento, a Feira será instalada na Universidade Federal do Vale São Francisco (Univasf) e vai narrar também a diversidade das práticas agroecológicas a partir dos territórios por onde passaram as Caravanas e a interlocução das diversas práticas com as políticas públicas existentes – e que garantem ou deveriam garantir a ampliação da produção de alimentos agroecológicos.
Estão previstas, ainda, palestras com intelectuais brasileiros e estrangeiros, e um grande show na noite de sábado. A programação (veja versão provisória anexa) vai ajudar a responder: “por que interessa à sociedade apoiar a agroecologia?”. Os diversos seminários temáticos ajudarão a compreender o emaranhado de relações entre a produção de alimentos e o cotidiano de toda a população. Estão em pauta temas como o acesso universal e livre às sementes em contraposição aos transgênicos; agrotóxicos, contaminação e saúde; reforma agrária e direitos territoriais; acesso à mercados locais e institucionais; agricultura nas cidades e ainda os direitos das mulheres e à comunicação.
Ao final do evento será entregue aos representantes do governo uma carta política sobre as discussões nas atividades e demandas do movimento agroeocológico.
Caravanas agroecológicas e culturais - Para a ANA, as experiências concretas dos agricultores e agricultoras são fundamentais e é por meio delas que encontramos caminhos para a produção de alimentos saudáveis e sem agrotóxicos, a partir da agricultura familiar, que fortalece as redes locais da economia e se importa com a igualdade de gêneros e a vida do trabalhador e do consumidor. É por causa deste método de trabalho que as Caravanas Agroecológicas e Culturais ganharam centralidade no processo de mobilização do III Encontro Nacional de Agroecologia entre 2013 e 2014.

Planejadas pela ANA com organizações locais, foram pelo menos 12 territórios visitados em todo o país, envolvendo mais de 2,5 mil pessoas. Divididas por rotas, as visitas às experiências promoveram uma troca de saberes intensa entre os agricultores, técnicos, estudantes, gestores públicos, dentre outros.
As variadas experiências mostraram a capacidade da agroecologia de promover o desenvolvimento dos territórios e o bem-estar da população. Também evidenciaram que há uma série de projetos oposto aos princípios postulados pela agroecologia disputando os territórios, como é o caso do perímetro irrigado a ser implantado na Chapada do Apodi (RN-CE), o crescimento da mineração na Zona da Mata (MG), as hidrelétricas previstas para o rio Tapajós, em Santarém (PA) e o uso intenso de agrotóxicos no Mato Grosso, inclusive na região de Cáceres. Assim como em todo o país, entre outros projetos que impossibilitam a existência da agricultura familiar agroecológica. As atividades garantiram um panorama de realidades muito distintas e que traduzem, em sua diversidade o que é agroecologia. Foi documentada a agricultura no modo de vida na beira dos rios na Amazônia, os mercados de alimentos orgânicos na região Sul e as lutas pela terra no Tocantins e em tantos territórios que ainda sofrem com a dívida histórica da reforma agrária.
Participação - Os participantes no III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA) deverão necessariamente estar inscritos nas delegações compostas nos estados ou nas delegações organizadas pelas redes, organizações e movimentos sociais que compõem a coordenação da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) ou que sejam parceiras no Processo Diálogos e Convergências. Não haverá abertura de inscrições avulsas, pois a estrutura prevista é capaz de atender adequadamente a 2.000 pessoas. O III ENA é direcionado especialmente a agricultores (as) envolvidos nas experiências em agroecologia, bem como a membros das organizações vinculadas à ANA. Para obter mais informações sobre a composição das delegações estaduais, segue a relação das pessoas nos estados designadas para coordenar essa atividade.
SERVIÇO:
III ENCONTRO NACIONAL DE AGROECOLOGIA
16 a 19 de maio
Campus da Universidade Federal do Vale São Francisco (Univasf)
Juazeiro, Bahia.
Outras informações: www.agroecologia.org.br

Quatro anos do assassinato de Zé Maria: uma luta contra os agrotóxicos e por justiça!

zé maria Zé Maria do Tomé, líder comunitário e ambientalista, foi assassinado no dia 21 de abril de 2010, por denunciar as consequências da pulverização aérea de agrotóxicos e irregularidades na concessão de terras nos perímetros irrigados da região da Chapada do Apodi, Ceará.
Por Cláudio Silva*

No próximo dia 21 de abril, se completam quatro anos do assassinato da liderança comunitária e ambientalista José Maria Filho, o Zé Maria do Tomé. Após oito dias, no dia 29 de abril, será realizada mais uma importante audiência do processo judicial que apura o homicídio.
Zé Maria foi assassinado com mais de vinte tiros, à queima roupa, próximo a sua residência, na comunidade de Tomé, zona rural de Limoeiro do Norte/CE. O defensor de direitos humanos destacou-se na luta contra a pulverização aérea de agrotóxicos, na Chapada do Apodi, Ceará. Essa atividade, promovida por grandes empresas do agronegócio, causa a contaminação da água, plantações e solo das comunidades da região. Além disso, provoca diversas doenças nos trabalhadores das empresas e moradores. Essas denúncias encontraram repercussões em ações judiciais, procedimentos do Ministério Público (Estadual, Federal e Trabalhista) e em inúmeras pesquisas acadêmicas.
Além das denúncias sobre as consequências do uso de agrotóxicos, José Maria Filho enfrentou diretamente as grandes empresas do agronegócio e denunciou irregularidades na concessão de terras nos perímetros irrigados da região. Esses perímetros provocam um processo de desapropriação (e mesmo expulsão) de pequenos trabalhadores rurais e concedem as terras para grandes empresas exportadoras de frutas. Enquanto o estado do Ceará passa por uma de suas maiores secas, essas empresas têm acesso à água em abundâncias e condições facilitadas.
Na região da Chapada do Apodi estão instaladas empresas como Del Monte, BANESA, Nólem e Frutacor, esta última cujo proprietário é acusado de autoria intelectual (mandante) do homicídio do Defensor de Direitos Humanos, Zé Maria.
zé maria2A morte de José Maria Filho não significou o fim da luta contra os danos sociais e ambientais provocados pelas empresas do agronegócio. Diversos movimentos sociais, organizações comunitárias, organismos da Igreja e pesquisadores/as de Universidades Públicas continuam os processos de análise, sistematização e denúncias sobre esses impactos negativos.

Um pouco da história de um defensor dos direitos humanos
A luta de José Maria, em conjunto com as organizações comunitárias, pesquisadores/as, movimentos populares e diversos apoiadores/as, gerou uma pressão social sobre a Câmara Municipal de Limoeiro do Norte. Em 20 de novembro de 2009 foi promulgada a Lei 1.278/2009 que proibia a pulverização aérea no município. Essa iniciativa legislativa foi considera inédita no Brasil e ganhou repercussão internacional, ao banir a pulverização aérea de agrotóxicos.
As empresas do agronegócio da região não cumpriam o disposto na Lei 1.278/2009. Então, José Maria Filho torna-se referência nas denúncias sobre as ilegalidades das empresas do agronegócio.
Além disso, Zé Maria continuou, em conjunto com diversas organizações, denunciando a contaminação das águas, do solo e ilegalidades, como grilagens de terras, cometidas pelas empresas do agronegócio. Todas essas denúncias são respaldadas por diversos procedimentos judiciais e administrativos, como uma Ação Civil Pública que obrigou a prefeitura de Limoeiro do Norte a construir um sistema de abastecimento de água alternativo, pois a rede pública estava contaminada pelos agrotóxicos. Outro procedimento do Ministério Público Federal apura denúncias de grilagem de terras das empresas do agronegócio em terras da União.
No dia 21 de abril de 2010, o defensor de direitos humanos foi assassinado, a poucos metros da sua casa, em típica ação de pistolagem.
A lei que proibia a pulverização aérea foi revogada em dia 20 de maio de 2010, um mês após o assassinato de Zé Maria.

A longa investigação…
Logo após o assassinato, foi instaurada a investigação na Delegacia de Polícia Civil em Limoeiro do Norte. Advogados ligados à Rede Nacional de Advogados/as Populares no Ceará (RENAP/CE) se dedicaram ao acompanhamento das investigações, representando a família no procedimento.  Porém, uma série de falhas e limitações foi apontada pelos advogados, tais como: não preservação do local do crime, demora nas perseguições, falta de estrutura na Delegacia local, dentre outras.
A limitação mais grave foi a demora na realização do exame de balística, que poderia identificar a origem dos projéteis que ceifaram a vida de Zé Maria. Esse exame foi realizado meses após o homicídio. Ademais, as testemunhas afirmavam não se sentir seguras em prestar seus depoimentos na Delegacia local.
zé maria5Através da pressão social e do acompanhamento do caso pela Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo (CNCVC), pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDH) e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Inquérito Policial tomou novos rumos.
Poucos meses após o início das investigações, o Inquérito Policial passou a ser conduzido pela Divisão de Homicídios, localizada em Fortaleza. Com essa mudança, o procedimento investigativo ganhou alguma celeridade e desenvolveu um decisivo trabalho de inteligência policial. Além disso, a atuação do Ministério Público Estadual, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), foi fundamental para conclusão da fase de investigação.
Em 26 de junho de 2012, mais de dois anos após a morte do defensor de direitos humanos, o Ministério Público ofereceu denúncia contra João Teixeira Júnior (proprietário da empresa Frutacor), José Aldair Gomes Costa (gerente da citada empresa), Antônio Wellington Ferreira Lima e Francisco Marcos Lima Barros (os dois últimos moradores da comunidade Tomé, que teriam dado suporte ao assassino) pelo homicídio. O primeiro denunciado é um dos mais importantes empresários do agronegócio no Ceará. O suposto executor seria um conhecido pistoleiro da região, assassinado em julho de 2010 em uma ação policial.

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O processo e a expectativa do Júri Popular
O processo nº 7659-18.2010.8.06.0115, que tramita 1ª Vara da Comarca de Limoeiro do Norte, é o que trata do homicídio de José Maria Filho.
Já foram ouvidas todas as testemunhas da Acusação. No último dia 26 de fevereiro, foram ouvidas quase 20 testemunhas da defesa. Nessa audiência ocorreu a oitiva das testemunhas de José Aldair Gomes Costa, Antônio Wellington Ferreira Lima e Francisco Marcos Lima Barros Wellington. Espera-se que diversas testemunhas do réu João Teixeira sejam ouvidas no próximo dia 29 de abril. Ainda faltam ser ouvidas algumas testemunhas por Carta Precatória, residentes fora comarca onde tramita o processo.
Após as oitivas de testemunhas, será realizado o interrogatório dos acusados. Por fim, a juíza de Limoeiro do Norte proferirá a sentença de pronúncia, quando se decide se os réus vão ou não a Júri Popular.
Na avaliação da Acusação (Promotoria e Assistência) o processo segue em um importante ritmo, na expectativa que antes de junho de 2014 seja proferida a sentença de pronúncia. Ou seja, espera-se que a juíza da comarca de Limoeiro do Norte decida que os réus sejam julgados por um Júri Popular.
O caso Zé Maria é emblemático no contexto dos crimes, assassinatos e violência no campo brasileiro. José Maria Filho foi assassinado por defender direitos humanos: direito ao meio ambiente, à terra e ao território, à saúde e à vida. O Estado brasileiro já está em dívida com a Justiça, diante dos quase quatro anos sem uma resposta efetiva à sociedade. As organizações de direitos humanos, movimentos populares, pesquisadores/as que atuam na região, organismos da Igreja e diversos apoiadores acompanham o caso com atenção e preocupação, esperando que ao final se faça justiça, com a condenação dos responsáveis (mandantes e executores) pelo assassinato de José Maria Filho.
José Maria vive!
*Claudio Silva é advogado, integra a Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares no Ceará e especialista em Economia e Desenvolvimento Agrário pela Universidade Federal do Espírito Santo/ Escola Nacional Florestan Fernandes.