quarta-feira

Henrique Alves, os R$ 300 milhões e a SEMARH.

O ex deputado federal Elias Fernandes, aliado do tipo unha e carne do deputado federal Henrique Eduardo Alves, foi posto para fora do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) sob suspeita de descaminho de quase R$ 200 milhões.
Num país sério, Elias estava preso.
Entretanto, quando a presidente Dilma Rousseff demitiu Elias Fernandes, houve um estranho movimento de Henrique para que os R$ 300 milhões destinados pelo Governo para o DNOCS fazer a barragem de Oiticica passasse para o Governo do Estado do RN.
De fato Elias foi apenas demitido.
O tempo passou, a poeira baixou e agora descobrimos porque Henrique Alves fez o estranho movimento junto ao Governo Federal para o Ministério da Integração Nacional repassar os R$ 300 milhões de Oiticica para SEMARH do RN e não mais para o DNOCS.
Como diretor do DNOCS, Elias Fernandes contratou a construtora EIT/Encalso para fazer a barragem de Oiticica. Sabe porque não fez? Resposta: O TCU constatou um sobrepreço no contrato 13.75%, o que representa R$ 33,2 milhões acima do preço de mercado.
Para transferir os recursos do DNOCS, de onde Elias Fernandes foi demitido, teve até solenidade, com direito a fotografia da governadora Rosalba Ciarlini ao lado de Henrique Alves no ato de assinatura de transferência dos recursos veiculada na mídia institucional.
Agora, para acalmar os ânimos com o Governo do Estado, Henrique Alves quer a SEMARH para acomodar estranhamente o aliado Elias Fernandes, que foi demitido do DNOCS depois do escândalo, para comandar a aplicação dos R$ 300 milhões na construção de Oiticica.
E o discurso do PMDB tendo como aliado do DEM para fazer esta barragem é fajuto. Eles dizem que a Barragem de Oiticica vai evitar enchentes no Vale do Açu. São Pedro deve está rindo, pois até as crianças sabem que o problema no Vale do Açu é inundação e não enchente.
Isto quer dizer que as cidades são inundas sendo o volume grande ou pequeno de água. Inunda porque o Rio está obstruído e não pela quantidade de água que desce, inclusive enchendo uma barragem 4 vezes maior do que a futura oiticica.
Fazem este discurso fajuto, por que querem a liberação dos recursos de forma emergencial e, assim, não precisar fazer tantas licitações.
E o discurso de Henrique é que ele está lutando pelo Rio Grande do Norte.
Na mutuca!
Fonte: Retrato do Oeste - Jornal De Fato

terça-feira

"As tecnologias existem para pensar o homem no campo, mas não são incentivadas"

Por: Ylka Oliveira - Asacom
Recife - PE
 
 Pesquisador da Fundaj e agrônomo, João Suassuna. | Foto: Site EcoDebate
Essa não é a primeira e nem será a última seca vivenciada por agricultores e agricultoras e populações tradicionais do Semiárido brasileiro. O ano de 2012 ficará marcado pela propagação na mídia de inúmeras notícias que dão conta da pior seca dos últimos 30 anos. Embora implique em perdas, a seca ou estiagem é um fenômeno natural. Não há como combatê-la, mas há como conviver com tais diferenças climáticas. Para isso, governos e sociedade civil precisam pensar e tornar possível políticas estruturantes. Planejar e executar somente ações emergenciais, a exemplo de carros-pipa e bolsas-estiagem, está longe de ser solução. Em entrevista à Asacom, o agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), João Suassuna, declara que a estiagem deste ano já estava prevista a um bom tempo e lamenta que as tecnologias sociais existam para pensar o homem no campo, mas não recebem incentivos. Fala ainda de ações estruturadoras como a criação de animais mais adaptados ao clima Semiárido, e ainda sugere a criação de um sistema de crédito rural diferenciado para o Nordeste. Suassuna diz também que é importante incentivar as ações estruturadoras, antes que a seca chegue.
Entrevista
Asacom – De um lado se fala em combate à seca. A mídia vem tocando muito nesse ponto. Do outro, em convivência com o Semiárido. Qual é a sua opinião sobre esse assunto?
João Suassuna - É importante a gente começar a falar que as secas já são previsíveis. Existem estudos, desde a década de 1970, feitos pelo CTA (Centro Técnico Aeroespacial) que comprovam a existência do fenômeno. A gente já sabe que a cada 26 anos esses fenômenos existem. Eles são recorrentes. E num intervalo entre 26 anos existem veranicos, secas pequenas, menores. Então isso já é uma coisa previsível, mas o triste de tudo isso é, mesmo sabendo da previsibilidade, não se faz nada de ações estruturadoras com relação a tornar possível a convivência do homem nesse período seco. Então isso aí é que é de lamentar. A seca de 2012 vem a mostrar isso. Ela já estava sendo prevista já fazia um bom tempo. Ela aconteceu e cadê o incentivo para as ações estruturadoras? Existem muito poucos incentivos. Mas a gente tem que reconhecer que mesmo havendo pouco, existem alternativas que estão sendo postas em prática e que elas funcionam. A ASA Brasil é um exemplo disso. A sua instituição é uma prova disso. Esse programa de Um Milhão de Cisternas [O P1MC] é um programa maravilhoso. Ele já tem 500 mil cisternas implantadas. Uma cisterna de 16 mil litros, ela fornece água de boa qualidade para beber e cozinhar, não pode ser para outro uso. Suporta oito meses de falta de chuva numa região. Isso é possível para uma família de 5 pessoas. Isso é calculável. Para uma área de telhado de um metro quadrado, se chover um milímetro, você tem um litro de água. Isso é uma coisa certa. Esse programa é exitoso e a gente tem que continuar estimulando esse tipo de coisa.

Outra coisa é a pecuária de dupla função. Existem exemplos interessantíssimos no Nordeste. Como é o caso no estado da Paraíba com a criação de grandes ruminantes, oriundos da Índia e do Paquistão. Como é o caso do gado guzerá. É um gado que se adaptou muito bem as condições do semiárido e do Nordeste. É um gado de dupla função e está se desenvolvendo de uma forma magnífica. Mesmo em período de seca como a gente está passando agora, esse tipo de criação, rebanho, está produzindo leite de uma forma maravilhosa. A gente tem acompanhado na mídia, na internet, vacas desse tipo produzindo 30 litros de leite, em época de estiagem. Quer dizer, isso é uma coisa que a gente tem que incentivar. A criação de caprinos também. O plantio de xerófilas, de capim, resistentes à seca, o plantio de palma forrageira, todas essas alternativas precisavam ter sido incentivadas há muito tempo e não estão sendo. Esse é que é o problema. Entra seca e sai seca, a gente sabe que as tecnologias existem, para pensar o homem no campo e isso não é incentivado. É de lamentar uma coisa dessas.

Asacom - O que o senhor acha que podemos aprender com essa situação do momento. O senhor já apontou a pecuária de dupla função. O que mais está dando certo e que pode se continuar?

Eu não deixaria de tocar na questão creditícia. Nós temos que ter um sistema de crédito rural diferenciado aqui no Nordeste. A gente não pode nunca fazer com que haja um sistema de crédito semelhante ao que é tomado na praça. Se o produtor rural que habita o Semiárido nordestino for tirar um recurso para desenvolver os seus trabalhos de campo contando com o sistema de crédito vigente, ele está arriscado a perder sua propriedade para o sistema financeiro. Então a gente tem que ter um sistema diferenciado, que haja a possibilidade dele pagar as suas dívidas com o que produzir na sua propriedade. Isso tem que acontecer.

Asacom – O rio São Francisco tem uma importância social, econômica e cultural para os povos do Semiárido brasileiro. O rio concentra 63% da oferta hídrica do Nordeste e é dos únicos perenes a atravessar o sertão. Em um artigo seu, o senhor deu uma declaração dizendo que a construção das represas das usinas geradoras do São Francisco diluiu a atividade pesqueira e as espécies de piracema. Qual o impacto disso para as populações ribeirinhas?

A produção de energia elétrica do São Francisco é praticamente toda localizada no submédio São Francisco, que é onde existem as corredeiras, ou pelo menos existiam as corredeiras. Então, para se produzir energia houve a necessidade de se construir barramentos nos locais onde antigamente existiam as corredeiras. A gente sabe que as espécies de peixe e piracema só desovam quando sobem essas corredeiras. Então, as fêmeas ao subirem as corredeiras estimulam a sua fisiologia para desova. Uma vez construída essas represas, deixou de haver o fenômeno da piracema. Então, espécies de piracema, como o surubim é uma delas, deixaram de produzir e começaram a abortar suas desovas. Isso ocorreu e o que está acontecendo é que atualmente o peixe está sumindo do rio São Francisco. Antigamente, se pegava surubim de 30 ou 40 quilos. Hoje quando se pega um de 5 kg é uma festa. Então o peixe está sumindo e não foram tomadas providências cabíveis para esse tipo de situação. E existem soluções. A represa de Itaipú construiu um canal de 10 km para a subida do peixe. Enquanto isso, famílias inteiras que dependem do pescado estão passando necessidade.

Asacom - Falamos aqui em políticas estruturantes. Com relação às ações emergenciais que o governo vem realizado para a seca, qual a sua opinião?

Da forma como está acontecendo hoje eu sou até a favor. Se o governo não chegar com esse recurso, o cidadão vai morrer de fome. Porque ele não vai ter outro meio de vida para sobreviver. Vai acontecer o que acontecia antigamente. O governo não chegava com esse recurso, as populações saqueavam os mercados, as feiras, para ter acesso ao alimento. Hoje não acontece mais porque o governo mensalmente entrega o dinheirinho para o cidadão sobreviver. Mas isso é dar o peixe, não é ensinar a pescar. Aí eu sou contra. A gente tem que partir para incentivar as ações estruturadoras, antes que aconteçam as secas.

segunda-feira

STTR de Apodi irá sortear duas motos com seus sócios/as.




No próximo dia 26 de Janeiro o STTR de Apodi estará realizando o sorteio de duas Motos Jonny New Hype 50c zero quilômetros entre seus associados/as; poderão participar do sorteio os sócios/as que estão em dias com suas obrigações sindicais de acordo com as normas estatutárias que regem a entidade.
O sorteio será realizado durante a Assembleia anual que terá início a partir das 8h00min. da manhã na sede do STTR de Apodi, a assembleia ainda contemplará a prestação de contas da entidade.
Venha participar você também!

A quem serve a transposição do São Francisco?

Canal quebrado

Por Aziz Ab'Saber

É compreensível que em um país de dimensões tão grandiosas, no contexto da tropicalidade, surjam muitas idéias e propostas incompletas para atenuar ou procurar resolver problemas de regiões críticas.
Entretanto, é impossível tolerar propostas demagógicas de pseudotécnicos não preparados para prever os múltiplos impactos sociais, econômicos e ecológicos de projetos teimosamente enfatizados.
Tem faltado a eventuais membros do primeiro escalão dos governos qualquer compromisso com planificação metódica e integrativa, baseada em bons conhecimentos sobre o mundo real de uma sociedade prenhe de desigualdades.
Nesse sentido, bons projetos são todos aqueles que possam atender às expectativas de todas as classes sociais regionais, de modo equilibrado e justo, longe de favorecer apenas alguns especuladores contumazes. Pessoalmente, estou cansado de ouvir propostas ocasionais, mal pensadas, dirigidas a altas lideranças governamentais.
Nas discussões que ora se travam sobre a questão da transposição de águas do São Francisco para o setor norte do Nordeste Seco, existem alguns argumentos tão fantasiosos e mentirosos que merecem ser corrigidos em primeiro lugar.
Referimo-nos ao fato de que a transposição das águas resolveria os grandes problemas sociais existentes na região semi-árida do Brasil. Trata-se de um argumento completamente infeliz lançado por alguém que sabe de antemão que os brasileiros extra-nordestinos desconhecem a realidade dos espaços físicos, sociais, ecológicos e políticos do grande Nordeste do país, onde se encontra a região semi-árida mais povoada do mundo.
O Nordeste Seco, delimitado pelo espaço até onde se estendem as caatingas e os rios intermitentes, sazonários e exoreicos (que chegam ao mar), abrange um espaço fisiográfico socioambiental da ordem de 750.000 quilômetros quadrados, enquanto a área que pretensamente receberá grandes benefícios abrange dois projetos lineares que somam apenas alguns milhares de quilômetros nas bacias do rio Jaguaribe (Ceará) e Piranhas/Açu, no Rio Grande do Norte.
Portanto, dizer que o projeto de transposição de águas do São Francisco para além Araripe vai resolver problemas do espaço total do semi-árido brasileiro não passa de uma distorção falaciosa.
Um problema essencial na discussão das questões envolvidas no projeto de transposição de águas do São Francisco para os rios do Ceará e Rio Grande do Norte diz respeito ao equilíbrio que deveria ser mantido entre as águas que seriam obrigatórias para as importantíssimas hidrelétricas já implantadas no médio/baixo vale do rio -Paulo Afonso, Itaparica, Xingó.
Devendo ser registrado que as barragens ali implantadas são fatos pontuais, mas a energia ali produzida, e transmitida para todo o Nordeste, constitui um tipo de planejamento da mais alta relevância para o espaço total da região.
De forma que o novo projeto não pode, em hipótese alguma, prejudicar o mais antigo, que reconhecidamente é de uma importância areolar. Mas parece que ninguém no Brasil se preocupa em saber nada de planejamentos pontuais, lineares e areolares. Nem tampouco em saber quanto o projeto de interesse macrorregional vai interessar para os projetos lineares em pauta.
Segue-se na ordem dos tratamentos exigidos pela idéia de transpor águas do São Francisco para além Araripe a questão essencial a ser feita para políticos, técnicos acoplados e demagogos: a quem vai servir a transposição das águas? Uma interrogação indispensável em qualquer projeto que envolve grandes recursos, sensibilidade social e honestas aplicações dos métodos disponíveis para previsão de impactos.
Os ‘vazanteiros’ que fazem horticultura no leito dos rios que ‘cortam’ -que perdem fluxo durante o ano- serão os primeiros a ser totalmente prejudicados. Mas os técnicos insensíveis dirão com enfado: ‘A cultura de vazante já era’.
Sem ao menos dar qualquer prioridade para a realocação dos heróis que abastecem as feiras dos sertões. A eles se deve conceder a prioridade maior em relação aos espaços irrigáveis que viessem a ser identificados e implantados.
De imediato, porém, serão os fazendeiros pecuaristas da beira alta e colinas sertanejas que terão água disponível para o gado, nos cinco ou seis meses que os rios da região não correm. É possível termos água disponível para o gado e continuarmos com pouca água para o homem habitante do sertão.
Nesse sentido, os maiores beneficiários serão os proprietários de terra, residentes longe, em apartamentos luxuosos em grandes centros urbanos.
Sobre a viabilidade ambiental pouca coisa se pode adiantar, a não ser a falta de conhecimentos sobre a dinâmica climática e a periodicidade do rio que vai perder água e dos rios intermitentes-sazonários que vão receber filetes das águas transpostas.
Um projeto inteligente e viável sobre transposição de águas, captação e utilização de águas da estação chuvosa e multiplicação de poços ou cisternas tem que envolver obrigatoriamente conhecimento sobre a dinâmica climática regional do Nordeste.
No caso de projetos de transposição de águas, há de ter consciência que o período de maior necessidade será aquele que os rios sertanejos intermitentes perdem correnteza por cinco a sete meses. Trata-se porém do mesmo período que o rio São Francisco torna-se menos volumoso e mais esquálido. Entretanto, é nesta época do ano que haverá maior necessidade de reservas do mesmo para hidrelétricas regionais. Trata-se de um impasse paradoxal, do qual, até agora, não se falou.
Por outro lado, se esta água tiver que ser elevada ao chegar a região final de seu uso, para desde um ponto mais alto descer e promover alguma irrigação por gravidade, o processo todo aumentará ainda mais a demanda regional por energia.
E, ainda noutra direção, como se evitará uma grande evaporação desta água que atravessará o domínio da caatinga, onde o índice de evaporação é o maior de todos? Eis outro ponto obscuro, não tratado pelos arautos da transposição.
A afoiteza com que se está pressionando o governo para se conceder grandes verbas para início das obras de transposição das águas do São Francisco terá conseqüências imediatas para os especuladores de todos os naipes.
Existindo dinheiro - em uma época de escassez generalizada para projetos necessários e de valor certo -, todos julgam que deve ser democrática a oferta de serviços, se possível bem rentosos. Será assim, repetindo fatos do passado, que acontecerá a disputa pelos R$ 2 bilhões pretendidos para o começo das obras.
O risco final é que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul da chapada do Araripe -com grande gasto de energia!-, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, de grande custo, e que acabaria, sobretudo, por movimentar o mercado especulativo, da terra e da política. No fim, tudo apareceria como o movimento geral de transformar todo o espaço em mercadoria.
(Folha de SP, 20/2)
A quem serve a transposição do São Francisco?, artigo de Aziz Ab’Saber Aziz apresentou este texto no debate na ‘Folha de SP’ sobre a transposição do Rio São Francisco, em que se manifestou contrário à obra Aziz Ab'Sáber é geógrafo, professor-emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, professor convidado do Instituto de Estudos Avançados da USP, ex-presidente e presidente de honra da SBPC. Artigo publicado pela ‘Folha de SP’.