quinta-feira

Famílias de Apodi conhecem novas estratégias de convivência com o semiárido em intercâmbio.

Stefanya Neves - comunicadora popular da ASA
Mossoró | RN

Agricultores\as observam experiências no intercâmbio | Foto: Arquivo Terra Viva
Terminou nesta quinta-feira, dia 24, o intercâmbio de dois dias realizado pelo Centro Terra Viva com as famílias beneficiárias do projeto Uma Terra e Duas Águas (P1+2) do município de Apodi, localizado na região do médio oeste potiguar.  As vistas aconteceram nos municípios de Campo Grande e Caraúbas, respectivamente, onde as famílias tiveram oportunidade de observar tecnologias que ajudam na convivência com o semiárido e viabilizam condições de produção para os agricultores e agricultoras do semiárido brasileiro.
O primeiro dia do intercâmbio aconteceu no sítio Bom Jesus, em Campo Grande, e as famílias agricultoras conheceram duas experiências bem sucedidas. A primeira foi no quintal de seu Francisco Damião, conhecido como “Ibo”, onde os agricultores entenderam como funciona o processo de dessalinização da água salobra, extraída dos poços, e observaram seu manejo nas plantações regadas com essa água.  Um criadouro coletivo de peixe também faz parte do experimento que tem parceira com a Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) e há quatro anos foi instalado no local, se aproveitando do alto índice salino e dos rejeitos da água tratada.
Atualmente seu Ibo é quem toma conta do criadouro e de acordo com ele cerca de 500 peixes alevino estão ocupando os tanques. Conforme o técnico de campo do Núcleo Sertão Verde, entidade parceira da Terra Viva, Deroci Araújo, no último experimento foram retirados dos tanques 178 quilos de peixe com uma média de venda a seis reais cada quilo, garantindo a sobrevivência da família de Ibo. 
Ainda no quintal de seu Ibo, os agricultores de Apodi contemplaram uma plantação de palma forrageira que ele cultiva com água salobra, como prevenção para a alimentação dos animais caso falte no futuro. 
Ainda no sítio Bom Jesus as famílias da chapada do Apodi visitaram a propriedade de dona Josena Luzia e Luiz Filho, que possuem uma plantação de goiaba e de acerola voltadas para a produção de poupa de frutas. De acordo com Josena, em 2012, os dezoito pés de fruteiras eram regados com apenas um balde de água durante a seca porque na época ela não possuía sua cisterna calçadão. A agricultora garante que hoje a situação é bem melhor depois da tecnologia implantada no seu quintal. 
Quintais produtivos
Ainda em Campo Grande, as famílias do intercâmbio conheceram a experiência de seu Antônio, agricultor experimentador conhecido como o “Jovem”, morador da comunidade rural do Campo de Aviação. Fruto do Projeto Juventude Rural do Dom Helder Câmara, Jovem produz batata, macaxeira, tomate, alface, mamão, milho, coentro, pimenta, coco, pinha, manga e outras frutas e verduras em seu sítio. Conforme o agricultor ele vende seus produtos na feira da cidade e nos sítios vizinhos também.  Nessa experiência os agricultores perceberam a importância da agricultura familiar que traz diversidade de produção, evitando pragas e preservando os nutrientes da terra. Já no sítio Veneza os agricultores também observaram uma plantação de maracujá bem sucedida.
Pouca chuva e o apoio das tecnologias
O segundo de visitação foi no município de Caraúbas e os agricultores observaram mais três experiências no assentamento Santa Agostinha: uma barragem subterrânea, um entreposto de mel e o processo de bioágua. Coordenador do manejo da caatinga no assentamento, o agricultor Carlos Alberto mostrou para as famílias beneficiarias do P1+2 a eficiência da barragem subterrânea em uma plantação de capim. Segundo Carlinhos, como o agricultor é conhecido na região, as chuvas do inverno este ano só alcançaram a marca de trezentos milímetros. 
A falta de chuvas também prejudicou a produção de mel. Segundo Carlinhos apenas 400 kg foram vendidos, o que o agricultor considera como um número baixo devido a produções anteriores.
Avaliação
Os agricultores e agricultoras de Apodi ficaram impressionados com o sucesso das experiências das famílias visitadas. De acordo com a agricultora Lúcia, ver a realidade de outros agricultores é inspirador. “A gente vai vendo essas experiências e volta pra casa com vontade de ter todas essas tecnologias para produzir”, comentou.
O intercâmbio é uma espécie de capacitação da ASA que possibilita o agricultor de ver na prática experiências de sucesso, despertando a curiosidade e o interesse para fazer também seus próprios experimentos nos quintais.  Este foi o terceiro intercâmbio executado pelo centro Terra Viva dentro do atual termo, que visa construir 303 tecnologias entre cisternas calçadão e enxurrada e barreiros trincheira nos município de Apodi, Severiano Melo e Rafael Fernandes.