quinta-feira

Leite é adulterado com produto cancerígeno no Rio Grande do Sul



Cem milhões de litros de leite podem ter sido misturados com água não tratada e um produto químico cancerígeno para aumentar o lucro de seis empresas de transporte. É o que descobriu uma investigação do Ministério Público no Rio Grande do Sul. O leite adulterado era vendido também no Paraná e em São Paulo. Oito dos nove suspeitos estão presos.
O galpão onde o leite era adulterado fica em Ibirubá, interior do Rio Grande do Sul. No local, caminhões-tanque sem qualquer refrigeração armazenam água e ureia que, segundo a investigação, são misturados com o leite. A ureia é um fertilizante muito usado no campo e contém formol, substância cancerígena condenada pela Organização Mundial da Saúde.
O engenheiro químico Jerônimo Luiz Menezes Friedrch explica porque os suspeitos precisavam adicionar ureia no leite: “O formol, que está dentro da ureia, é usado para maquiar a adição de água, que era colocada dentro do leite. Eles queriam ganhar no volume. Só que o formol é um produto cancerígeno e cumulativo no organismo, então eles estavam usando a ureia, desconhecendo que dentro havia o formol”.

No final de fevereiro, o Ministério da Saúde identificou a presença do formol. Os promotores começaram a investigar e descobriram que os suspeitos compraram mais de 98 toneladas de ureia, o suficiente para adulterar os 100 milhões de litros de leite que os envolvidos vendem no Rio Grande do Sul, no Paraná e em São Paulo em um ano.

“Nós apuramos que alguns empresários do setor de transporte de leite cru, que realizam o transporte do produtor para os postos de resfriamento, estavam lucrando com a adição de 10% de água ao volume trabalhado. Como essa adição de água faz uma diminuição do poder nutricional do leite, estavam adicionando ureia”, relata o promotor Mauro Rockenbach.
O leite era comprado do produtor por intermediadores, que antes de vender para a indústria adulteravam o produto nos chamados postos de resfriamento. Para o promotor, os fraudadores sabiam do risco à saúde da população. “Eles agiam até com um certo deboche. Houve um diálogo captado em determinada ocasião em que um dos empresários fraudadores pedia ao seu motorista que antes de fazer a mistura e levar o leite adulterado, deixasse o leite bom, cru, para ser usado pela sua família. Usando a expressão: ‘deixa para minha guachaiada’”, conta.

Pela manhã, os promotores cumpriram 13 mandados de busca e nove de prisão em quatro cidades gaúchas. Eles estiveram no depósito visitado pela equipe do Jornal Hoje e descobriram que nem a água adicionada ao leite era tratada e vinha deste poço artesiano.
Após a descoberta da fraude, o Ministério da Agricultura determinou o recolhimento de lotes de quatro marcas nas prateleiras dos supermercados: Latvida, Italac, Líder e Mu-mu. “É possível que alguma coisa ainda esteja no mercado. Tem que se evitar o consumo desses lotes que foram identificados”, alerta o promotor Alcindo Luz Bastos Filho.
A investigação não apontou o envolvimento das indústrias na fraude, mas Mauro Rockenbach criticou a análise do produto nas fábricas:  “Eles falharam no controle de qualidade, uma vez que recebem leite com ureia e formol e não detectam antes da linha de industrialização. Falharam no controle de qualidade”.
A Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul afirma que a indústria Latvida não pode mais produzir leite, derivados e doces, pois havia formol em algumas amostras coletadas. A empresa alega que os problemas aconteceram durante o transporte e se referem a apenas um lote.
A empresa que fabrica a marca Mu-Mu afirma que atende os requisitos exigidos pelo Ministério da Agricultura e está à disposição da investigação e dos consumidores para esclarecer dúvidas. A equipe do Jornal Hoje tentou falar com os fabricantes das marcas Italac e Líder, mas ainda não conseguiu resposta.
Confira a lista dos lotes de leite retirados do mercado pelo Ministério da Agricultura:
Fábrica BOM GOSTO – TAPEJARA/RS – SIF 4182
Leite UHT integral
- Marca Líder
Lote: TAP 1 MB
Fábrica GOIASMINAS – PASSO FUNDO/RS – SIF 1369
Leite UHT integral
- Marca Italac
Lote: L 05 KM3
Leite UHT semidesnatado
- Marca Italac
Lote: L 12 KM1
Leite UHT integral
- Marca Italac
Lote: L 13 KM3
Leite UHT integral
- Marca Italac
Lote: L 18 KM3
Leite UHT integral
- Marca Italac
Lote: L 22 KM4
Leite UHT integral
- Marca Italac
Lote: L 23 KM1
Fábrica VONPAR – VIAMÃO/RS – SIF 1792
Leite UHT integral
Marca Mumu

segunda-feira

´Eu ainda penso que ele vai voltar´, diz esposa de agricultor.


Num dos maiores polos agrícolas do Nordeste, farra de agrotóxicos e casos de contaminação, como o de José Liberato

Para Helena, o tempo parece não passar e, assim, a saudade de liberato não diminui com o passar dos dias, meses, anos

Juazeiro (BA). Parece que foi ontem o dia 20 de julho de 2010. Os mais de 39 anos de casada com Liberato não permitem que Helena ache distante o tempo que já não vive mais com o esposo. "Distância é o tempo que fica para frente". Ao redor de casa, o horizonte lembra Liberato - um campo agrícola e o campo de futebol. E, quando a tarde avança, é maior a sensação de que o homem está perto de voltar.

"Era louco por futebol. Era sagrado o jogo à tardinha. Chegava da plantação pra se trocar para o jogo. Duas coisas que ele gostava: jogar bola e ouvir um sonzinho em casa". Seu Liba, como era chamado na comunidade, diziam que dava de dez a zero nos rapazotes. "Era um coroa enxuto". O gosto pelo futebol é tanto que só percebe que a contaminação por agrotóxico virou coisa séria no meio de uma partida, quando bate uma fraqueza e desmaia no meio do campo. No hospital, dizem que provavelmente não é nada. "Mas eu já tinha impressão que fosse o início desse problema", afirma Helena. É o início do recomeço, pois antes foram vários decaimentos no campo agrícola.

"Ele já tinha se intoxicado de veneno em 83, teve a segunda vez, aí a terceira foi aqui na frente de onde tá a gente". Estamos no assentamento Mandacaru, Juazeiro (BA), em pleno Vale do Rio São Francisco. Por causa disso, passa sete anos afastado da roça. "Se fosse lá (na roça), chegava em casa com dor de cabeça e coceira no corpo".

Corpo "em chamas"

O formigamento e o calor no corpo são tantos que 5 horas da madrugada, quando o sertanejo pode encontrar o momento mais frio do dia quente, Liberato está no segundo ou terceiro banho. Vã tentativa de apagar a sensação de chamas. "Quando ele sentia dor de cabeça, o médico dizia ´o senhor não vá pra roça, pode dar um problema e o senhor ficar paralisado´. Era uma dor de cabeça muito forte, ele gritava feito criança", conta.

Além da casa, o casal Helena e Liberato conquistou um lote de oito hectares no assentamento. Lá, passaram 24 anos das quase quatro décadas de casados. Nesse tempo, viram o Rio São Francisco iniciar a propulsão de um grande movimento de produção agrícola irrigada, a partir de Petrolina (PE), na outra margem do rio. O polo Petrolina-Juazeiro é hoje referência de desenvolvimento rural no Nordeste.

"Na época em que ele começou, não tinha proteção . Naquele tempo, não tinha EPI. Tinha tempo de ele chegar em casa todo molhado de veneno. Depois, eu ia lavar a roupa. Mas também ajudava ele assim: ele botava veneno num dia, no outro eu ia limpar. Quando eu fiquei assim (aponta manchas no corpo), fiz todo tipo de exame e não deu nada para agrotóxico".

Reunião da ASA Potiguar acontecerá nesta terça-feira no município de Currais Novos.

 
Acontecerá nesta terça-feira, dia 07 de maio, no auditório da CDL do município de Currais Novos, localizado na microrregião do Seridó no Estado do Rio Grande do Norte a segunda reunião da ASA Potiguar do RN.

A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) é uma rede formada por mil organizações da sociedade civil que atuam na gestão e no desenvolvimento de políticas de convivência com a região semiárida. Sua missão é fortalecer a sociedade civil na construção de processos participativos para o desenvolvimento sustentável e a convivência com o Semiárido referenciados em valores culturais e de justiça social. No Rio Grande do Norte, essa rede é muito atuante, subdividida em microrregionais e já tem desenvolvido várias atividades nas várias regiões do Estado. Aqui no RN, a ASA é coordenada pelo Centro Terra Viva, na pessoa do Técnico Paulo Segundo.

Aqui no Estado, a ASA atua principalmente com dois programas importantes para a convivência com o Semiárido, o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) que são ações do Programa de Formação e Mobilização Social para Convivência com o Semiárido da ASA.

“Reforço a importância e a necessidade de participação de todas as UGs (unidades gestoras), entidades membro da ASA, Comunicadores(as)  e delegados(as),  pois, precisamos socializar os informes e as várias articulações que estão acontecendo nas microrregionais”, afirma Paulo Segundo.

As discussões principais da reunião serão os programas que estão sendo executadas pelas Organizações da ASA, como também já iniciar o debate acerca do ECONASA, Atividades do FOCAMPO e discutir agendas e programações para as atividades de atuação no RN.

 Enviado por: Jerlândio Moreira - Centro Terra Viva - Comunicação Popular

Silêncio e dor se multiplicam nos campos brasileiros.


Nesta série contamos a história de homens e mulheres vítimas da intoxicação por agrotóxicos na atividade agrícola e o que diz a política, a economia e a ciência

Para garantir a colheita e aumentar a produtividade, passou-se a usar o agrotóxico, que alguns chamam de defensivo químico ou agroquímico. O veneno usado para matar pragas nas lavouras chega com força ao ser humano e ao meio ambiente quanto maior e mais indiscriminado é o seu uso. Mortes silenciosas passam a ocorrer nos campos agrícolas brasileiros e fora deles. Assim foi com Valderi, Wanderlei, Rosália, Liberato e Antônio. Estes são alguns entre milhares de nomes registrados pelo Sistema Nacional de Informações Toxicológicas (Sinitox) com óbitos por agrotóxico agrícola.

São trabalhadores rurais do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Bahia, que conhecemos após percorrer quase 6 mil quilômetros. Os seus últimos anos de vida são narrados pelas esposas, as "viúvas do veneno". Entre as vítimas incluímos Rosália, que lavava diariamente as roupas do marido sujas de veneno. Morreu de leucemia. Deixou três filhos e Marizaldo, o viúvo desta série.

Maria da Conceição cuidou dos últimos dez anos de vida de Valderi. Mas os cinco últimos valeram por outros dez. O agricultor foi perdendo partes do corpo. A reportagem conheceu Valderi logo após ele perder os primeiros dedos do pé, em 2005. Fizemos também a sua última foto em vida, em 2008.

Esta série especial não começa agora, mas há sete anos, em Limoeiro do Norte, cidade de José Maria Filho, uma das fontes exclusivas entre os moradores e lideranças na Chapada do Apodi. Sabíamos, dois anos antes, das ameaças de morte que sofria por denunciar a pulverização aérea onde hoje está um dos maiores polos fruticultores do Nordeste. Mesmo assim, ele insistia em não se calar. Quando foi assassinado, a comunidade de Zé Maria não se calou e os cientistas constataram as doenças causadas pelo veneno denunciado. A partir de amanhã, e até domingo, acontece a Semana Zé Maria do Tomé. Serão dias de protestos pela causa ambiental.

O Brasil é, há mais de quatro anos, o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Somente em 2011 circularam cerca de US$ 8,9 bilhões no comércio de veneno, dominado por nove empresas fabricantes que não concorrem entre si, pois, para cada cultura, uma delas produz um ou vários venenos específicos.

Em todo o País, foram confirmadas 171 mortes por agrotóxico agrícola somente em 2010, ano mais recente levantado pelo Sistema Nacional de Informações Toxicológicas. Mas a subnotificação é um dos grandes imbróglios neste setor. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada caso notificado, existem outros 40 que não são.

E de quem é a culpa? Do modelo agrícola, da desinformação do trabalhador, do lobby dos fabricantes de venenos, da venda a qualquer custo? Desde a "revolução verde", há 50 anos, não se falou tanto em agrotóxicos no Brasil quanto nestas primeiras décadas do século XXI. "Delicado", "espinhoso", "polêmico", "necessário" são alguns adjetivos dados ao assunto, não importa qual opinião se tenha. No meio disso tudo, um fato: mais pessoas estão morrendo, o solo e a água estão com maiores teores de produtos químicos. Tudo de uma forma silenciosa, só definida com o tempo.

Estivemos também em Campinas (SP) reunidos com autoridades do agronegócio e representantes do segmento fabricante de agrotóxicos. Enquanto tudo isso, o mundo corre para garantir a segurança alimentar para 9 bilhões de pessoas até 2050. Há respostas de cunho político, econômico, social ou científico. Todas elas são consideradas nesta série especial inédita de hoje até o próximo dia 20 de abril.

Fonte: Diário do Nordeste