quinta-feira

Convite a população apodiense: Debate Sobre o Aproveitamento das águas da Barragem de Santa Cruz.

Movimento Campesino de Apodi irá apresentar Projeto Alternativo para a agricultura familiar de Apodi e região, em contra-ponto ao Perímetro Irrigado que o DNOCS quer instalar na Chapada do Apodi.
Professor Dr. João Abner - Estudioso da área de Recurso Hídricos  


Convite

Os Movimentos do campo do Rio Grande do Norte e o Sindicato dos Trabalhdaores e das Trabalhadoras Rurais de Apodi vem através deste Convidar Vossa Senhoria para participar de uma palestra que tratará DO PROJETO ALTERNATIVO PARA AGRICULTURA FAMILIAR DE APODI versus  PERÍMETRO IRRIGADO DA CHAPADA DO APODI, que estará acontecendo no dia 06 de Novembro de 2012, a partir das 18h00min no Auditório da Câmara de Dirigentes Lojistas de Apodi.
Na oportunidade o professor Dr. João Abner Guimarães da UFRN fará uma exposição sobre a viabilidade do aproveitamento das águas da Barragem de Santa Cruz de Apodi forma economia, ambiental e socialmente correta.
Sua presença é de suma importância para o Fortalecimento da Agricultura Familiar de Apodi/RN.

SERVIÇO:
O que é? APRESENTAÇÃO DO PROJETO ALTERNATIVO PARA AGRICULTURA FAMILIAR DE APODI versus PERIMETRO IRRIGADO DA CHAPADA DO APODI.
Quando? No dia 06 de Novembro de 2012, a partir das 18h00min.
Aonde? Camara de Dirigentes Lojistas de Apodi, Rua Pe. Benedito Alves – Centro.


quarta-feira

Do diálogo à resistência das mulheres em Apodi.


Por Tica Moreno*
A resistência das mulheres em Apodi é uma expressão do feminismo anticapitalista da MMM. Os direitos que a gente tem nas leis não significam igualdade real na prática se vivemos em um mundo onde predominam os interesses do capital sobre a soberania dos povos. É o que está acontecendo agora, na chapada do Apodi (RN).
Quando a proposta do perímetro irrigado de Apodi apareceu, as mulheres da MMM, em aliança com os movimentos sociais da região, denunciaram que o que estava em jogo eram dois modelos de agricultura.
De um lado, está o agro e hidronegócio. O projeto propõe entregar as terras da Chapada do Apodi e as águas da barragem de Santa Cruz para 5 empresas que produzem frutas para exportação.
Do outro lado, está a agricultura familiar e camponesa e a produção do viver de centenas de famílias, que, a partir da produção em grande parte agroecológica nas pequenas propriedades, representa o terceiro PIB agropecuário do Rio Grande do Norte.
Esse projeto foi apelidado de Reforma Agrária ao contrário. Isso porque o projeto tem por objetivo desapropriar 13.855 hectares de pequenas propriedades para concentrar essa terra nas mãos de 5 empresas da agro-exportação. É uma contradição gigante para o governo, porque, se somarmos os anos dos governos Lula e Dilma, essa quantidade de terra não foi desapropriada para a reforma agrária noRN e, agora, com apenas um decreto, irá das pequenas propriedades para grandes empresas do agronegócio.
Manifestação contra o agro e hidronegócio em Apodi
A soberania alimentar, a reforma agrária e a agroecologia fazem parte da nossa luta por igualdade e autonomia econômica das mulheres, que se articula com uma mudança estrutural no modelo de (re)produção e consumo. No vídeo caseiro abaixo, a Conceição Dantas, conta como as mulheres tiveram que lutar muito pra conquistar a terra e as condições para produzir, como água e infra-estrutura. E da mesma forma tem que lutar para permanecer na terra. Perder as terras significa perder a autonomia econômica e ter que buscar outras formas de sobreviver, provavelmente na periferia das cidades. Mais uma contradição para um governo que quer acabar com a pobreza, mas opera este projeto que privilegia a reconcentração de terra, empurrando mais cidadãs e cidadãos para a exclusão social.
“Não adianta conquistarmos direito a terra e ao crédito, quando o capital avança no campo e o agronegócio reconstrói sua força por dentro do nosso governo e ameaça todas as nossas conquistas com a conivência de quem deveria nos proteger”  Kika- vice-presidente do STTR-Apodi.
Se, em um primeiro momento, a nossa pressão se direcionou para um diálogo com o governo para revogar este projeto, agora estamos em um momento de articular a luta de resistência, pois o governo demonstra ter escolhido um lado, ao implementar a proposta do agro e hidronegócio, e já iniciou a indenização de 35 famílias que serão atingidas pela primeira fase da construção do perímetro irrigado.
Estamos em marcha até que todas sejamos livres. No Brasil, isso significa, também, até que o campo esteja livre do agronegócio.

Lutar e resistir pela Chapada do Apodi!

Clique na imagem para ampliar

segunda-feira

Estudo revela: Coquetel de agrotóxicos ingerido no consumo de frutas e verduras pode causar Alzheimer e Parkinson


Comer cinco frutas e legumes por dia é bom para a saúde. Não tão bom é o “coquetel” de pesticidas ingerido no processo: a mistura dessas substâncias químicas pode multiplicar seus efeitos tóxicos em proporções tão surpreendentes quanto preocupantes, segundo os resultados de um estudo preliminar publicado na revista científicaPloS One.

A reportagem é do Le Monde e reproduzida no Portal UOL, 08-08-2012

Os testes toxicológicos sistemáticos conduzidos dentro do regulamento europeu Reach visam às substâncias uma por uma. “Sabe-se muito pouco sobre seus efeitos combinados, sendo que somos literalmente cercados por combinações de venenos”, explica o principal autor do estudo, o toxicólogo Michael Coleman, da Universidade de Aston, na Inglaterra.
Sua equipe comparou o efeito isolado e o efeito combinado, sobre células de nosso sistema nervoso central, de três fungicidas encontrados com frequência nas prateleiras de hortifrúti: o pirimetanil, o ciprodinil e o fludioxonil.

Resultado: os danos infligidos às células são até vinte ou trinta vezes mais graves quando os pesticidas são associados. “Substâncias que são conhecidas por não afetarem a reprodução humana e o sistema nervoso e não serem cancerígenas, combinadas possuem efeitos inesperados”, resume um dos autores do estudo, o biólogo molecular Claude Reiss, ex-diretor de pesquisa do CNRS e presidente da associação Antidote Europe.

“Observamos o agravamento de três tipos de impactos”, detalha o pesquisador francês: “A viabilidade das células é degradada; as mitocôndrias, que são as ‘baterias’ das células, não conseguem mais alimentá-las com energia, o que desencadeia a apoptose, ou seja, a autodestruição das células; por fim, as células são submetidas a um stress oxidante muito poderoso, possivelmente cancerígeno e que pode levar a efeitos em cascata”.
Entre as possíveis consequências de tais agressões sobre as células, os pesquisadores citam o risco de uma vulnerabilidade crescente a doenças neurodegenerativas como o Mal de Alzheimer, de Parkinson ou a esclerose múltipla. “Nosso estudo aborda um pequeno número de substâncias, trazendo mais perguntas do que respostas, mas esses efeitos foram evidenciados em doses muito pequenas, concentrações próximas às encontradas em nossos alimentos”, observa o professor Coleman.

O cientista considera urgente popularizar esse tipo de teste, apesar das milhares de combinações possíveis: “Isso permitiria determinar se as misturas são nocivas, para ajudar os agricultores a escolher os produtos que eles utilizam”. O fato de conduzir esses estudos em células humanas e não em ratos, como acontece no procedimento Reach, permitiria diminuir os prazos e os custos, ao mesmo tempo em que fornecem resultados mais confiáveis. “A maior parte das substâncias químicas não são testadas corretamente: não somos ratos de 70 quilos!”, reclamaClaude Reiss.

Para o Movimento pelo Direito e pelo Respeito das Gerações Futuras (MDRGF), que cofinanciou o estudo, esses testes são ainda mais necessários pelo fato de que um terço das frutas e legumes fiscalizados pela Direção Geral da Concorrência, do Consumo e da Repressão de Fraudes contém resíduos de vários pesticidas.

“Em 2008, detectamos em um mesmo cacho de uvas os três produtos testados pelo professor Coleman”, lembraFrançois Veillerette, porta-voz do MDRGF. Na época, análises encomendadas pela associação haviam revelado que quase todas as uvas vendidas no grande varejo continham múltiplos pesticidas, totalizando oito substâncias diferentes por cacho, em média.

A associação pede para que a Comissão Europeia “lance sem demora uma estratégia de avaliação global das misturas de produtos químicos” e que “abaixe significativamente os limites máximos de resíduos tolerados nos alimentos, em um cuidado elementar de precaução”.
Fonte: Site do IHU.

Desigualdade rural persiste devido à opção pelo agronegócio, diz especialista.


Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou o Atlas do Espaço Rural Brasileiro, publicação que integra os dados do Censo Agropecuário 2006 com pesquisas sociais, populacionais, ambientais e econômicas. Segundo o Instituto, o objetivo da publicação é retratar a realidade territorial do campo brasileiro. Os dados, referentes à educação no campo, tecnologia e modernização do meio rural brasileiro, uso dos recursos naturais e concentração de terras, mostram um campo brasileiro desigual, no qual uma minoria segue privilegiada enquanto a maioria dos agricultores vive em situações precárias. 
De acordo com José Juliano De Carvalho Filho, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP e membro da Associação Brasileira da Reforma Agrária (ABRA), “Tudo isso ocorre porque o agronegócio é a opção econômica que o governo adotou para o campo”. Em entrevista à Página do MST, o professor comentou os dados apresentados pelo IBGE, e aponta que a realidade territorial do campo brasileiro é dura para os mais pobres. 
Confira a entrevista:     
Dos proprietários rurais que administravam diretamente propriedades agropecuárias, 3,9 milhões de estabelecimentos, ou 39%  do total, eram analfabetos ou sabiam ler e escrever sem terem frequentado a escola, e 43% não tinham completado o ensino fundamental. Por que esse percentual tão grande?
Essa população não existe para o estado, e quando existe, as políticas para ela são de baixa qualidade. É só ver a distância que as crianças assentadas precisam percorrer para chegar à escola. Além disso, os professores recebem salários baixos, e dão aulas a muitos alunos. Para os pobres do campo, a política é pouco efetiva.
Já a concentração dos maiores percentuais de produtores proprietários com nível médio de instrução (regular e profissionalizante) ocorre nas áreas de domínio do complexo agroindustrial da soja e de outras commodities de exportação, demonstrando a correlação entre o aprimoramento técnico da agricultura e o nível de instrução do produtor rural. 
Há uma mudança no tipo de emprego: as monoculturas, aliadas com a modernização do campo, acabam com boa parte do emprego rural, que costuma ser degradante para o trabalhador. Agora emprega-se apenas pessoas capacitadas para atividades industriais, como operação de máquinas, ao passo que os mais pobres perdem seu emprego braçal. Em áreas onde a soja entra, como no norte do país, há uma expulsão das populações tradicionais, e quando se expulsa uma população, obviamente não se gera emprego para ela.    
A publicação também destaca que a agropecuária é uma das atividades humanas que causam maior impacto sobre o ambiente natural. O pampa lidera a depredação, com 71% da sua área ocupada com estabelecimentos agropecuários, seguido pelo pantanal (69%), mata atlântica (66%) e cerrado (59%). Por que a produção agrícola tem este caráter predatório?
O impacto negativo não é só na flora, mas também no controle privado dos bens naturais que esse modelo de produção exerce. É a opção brasileira, inclusive dos governos Lula e Dilma. Reinaldo Gonçalves (professor de economia da UFRJ) diz que temos uma “especialização retrógrada”, pois o agronegócio é uma forma subalterna e marginal de entrar no mercado internacional. É preciso exportar commodities em grandes quantidades para equilibrar a balança comercial, o que dá muito poder aos latifundiários e faz o governo refém da bancada ruralista. 
Ao invés de produzirmos bens manufaturados, há apenas os primários: soja, carne, etanol. O impacto do agronegócio no meio ambiente é grande justamente por essa visão mercantil da terra e a influência ruralista grande, basta ver a aprovação do Código Florestal, que atendeu a diversos interesses ruralistas, e vai causar danos maiores no meio ambiente. 
Aproximadamente 90% dos recursos hídricos do país são destinados à produção agrícola, produção industrial e consumo humano, sendo a maior demanda de água proveniente das atividades de agricultura irrigada. Em relação à produção agrícola, para quem vai a água?
A água está sendo usada pelo agronegócio. Há a deterioração da qualidade da água, devido a todos os produtos químicos que são despejados nela, sem que haja consequências para os grandes produtores. Quem acaba responsabilizado são os pequenos produtores: em um assentamento, existe uma burocracia para se abrir um poço, enquanto que os latifundiários usam recursos abundantes de forma irresponsável e não pagam por isso. Não é o pequeno produtor que contamina a água, e sim o grande. 
O estudo aponta como avanços tecnológicos no campo os transgênicos e o uso de máquinas. Qual o impacto dessa tecnologia no meio rural?
A tecnologia é enviesada, pois desconsidera o saber dos povos do campo. O discurso de que “precisamos superar a fome” monopoliza a produção na mão de algumas transnacionais, pois há o mito de que o agronegócio é a única solução possível para acabar com a fome. As empresas só querem lucrar, não estão preocupadas com o país. Elas querem dominar as terras e a produção. Se continuar assim, vamos chegar em um ponto onde para plantar ou colher qualquer coisa vamos ter que pagar royalties a eles.  O agronegócio não é a única opção, e ele deveria ser regulado pelo estado, pois o latifúndio impede os pequenos produtores ao seu redor de crescerem. 
Não sou contra a tecnologia, mas a forma como ela é apropriada pelo agronegócio preocupa. A intenção é o monopólio. É como se fosse uma Reforma Agrária ao contrário, e a impressão que eu tenho é que os ruralistas veem o caminho livre para fazer o que querem.
A agricultura familiar, apesar de abranger 4,4 milhões de estabelecimentos agropecuários do país (84,4%), cobre apenas 80 milhões de hectares (24,3% da área total). A área média dos estabelecimentos com agricultura familiar era de 18,3 hectares, enquanto a dos com agricultura não familiar era de 330 hectares. Como a concentração de terras se relaciona aos outros dados mencionados?
Essa questão está na base de tudo. As principais características do campo brasileiro são a concentração de terras e a violência. O estado não cuida da questão da terra no sentido de beneficiar os pequenos produtores. Ao não regular o agronegócio, o estado destrói o pequeno produtor, que é muito vulnerável sem a sua assistência. 
Medidas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), a compra de alimentos da Reforma Agrária para merenda escolar, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), são interessantes, mas insuficientes, pois ao mesmo tempo em que temos essas políticas, investe-se pesadamente no agronegócio. Nós precisamos de políticas estruturantes para os pequenos produtores.
Dessa forma, os interesses das empresas permanecem, e a agricultura familiar, sem os incentivos e políticas necessárias, não tem condições de enfrentá-los. O estado é ineficaz porque beneficia o capital. Não há opção política do governo em beneficiar os pequenos produtores; há muito diálogo, mas de concreto, não existe planejamento político. 
Tudo isso ocorre porque o agronegócio é a opção econômica que o governo adotou para o campo, basta ver o assustador desmatamento na Amazônia. Se a mesma situação perdura há mais de vinte anos, mesmo com uma ampla quantidade de pesquisas e denúncias sobre os impactos que o desmatamento causa, é porque o projeto político do governo para o campo demanda isso. Se continuarmos desse jeito, nosso futuro infelizmente é o do agrobrasil, no qual os pequenos produtores não terão chance de sobreviver e o meio ambiente será cada vez mais depredado para a produção de mercadorias primárias.