quarta-feira

Do diálogo à resistência das mulheres em Apodi.


Por Tica Moreno*
A resistência das mulheres em Apodi é uma expressão do feminismo anticapitalista da MMM. Os direitos que a gente tem nas leis não significam igualdade real na prática se vivemos em um mundo onde predominam os interesses do capital sobre a soberania dos povos. É o que está acontecendo agora, na chapada do Apodi (RN).
Quando a proposta do perímetro irrigado de Apodi apareceu, as mulheres da MMM, em aliança com os movimentos sociais da região, denunciaram que o que estava em jogo eram dois modelos de agricultura.
De um lado, está o agro e hidronegócio. O projeto propõe entregar as terras da Chapada do Apodi e as águas da barragem de Santa Cruz para 5 empresas que produzem frutas para exportação.
Do outro lado, está a agricultura familiar e camponesa e a produção do viver de centenas de famílias, que, a partir da produção em grande parte agroecológica nas pequenas propriedades, representa o terceiro PIB agropecuário do Rio Grande do Norte.
Esse projeto foi apelidado de Reforma Agrária ao contrário. Isso porque o projeto tem por objetivo desapropriar 13.855 hectares de pequenas propriedades para concentrar essa terra nas mãos de 5 empresas da agro-exportação. É uma contradição gigante para o governo, porque, se somarmos os anos dos governos Lula e Dilma, essa quantidade de terra não foi desapropriada para a reforma agrária noRN e, agora, com apenas um decreto, irá das pequenas propriedades para grandes empresas do agronegócio.
Manifestação contra o agro e hidronegócio em Apodi
A soberania alimentar, a reforma agrária e a agroecologia fazem parte da nossa luta por igualdade e autonomia econômica das mulheres, que se articula com uma mudança estrutural no modelo de (re)produção e consumo. No vídeo caseiro abaixo, a Conceição Dantas, conta como as mulheres tiveram que lutar muito pra conquistar a terra e as condições para produzir, como água e infra-estrutura. E da mesma forma tem que lutar para permanecer na terra. Perder as terras significa perder a autonomia econômica e ter que buscar outras formas de sobreviver, provavelmente na periferia das cidades. Mais uma contradição para um governo que quer acabar com a pobreza, mas opera este projeto que privilegia a reconcentração de terra, empurrando mais cidadãs e cidadãos para a exclusão social.
“Não adianta conquistarmos direito a terra e ao crédito, quando o capital avança no campo e o agronegócio reconstrói sua força por dentro do nosso governo e ameaça todas as nossas conquistas com a conivência de quem deveria nos proteger”  Kika- vice-presidente do STTR-Apodi.
Se, em um primeiro momento, a nossa pressão se direcionou para um diálogo com o governo para revogar este projeto, agora estamos em um momento de articular a luta de resistência, pois o governo demonstra ter escolhido um lado, ao implementar a proposta do agro e hidronegócio, e já iniciou a indenização de 35 famílias que serão atingidas pela primeira fase da construção do perímetro irrigado.
Estamos em marcha até que todas sejamos livres. No Brasil, isso significa, também, até que o campo esteja livre do agronegócio.

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