FÓRUM DO CAMPO POTIGUAR – FOCAMPO
ARTICULAÇÃO NO SEMIÁRIDO DO RIO G. DO NORTE –
ASA POTIGUAR
PROVÍNCIA ELESIÁSTICA DE
NATAL
(ARQUIDIOCESE
DE NATAL – DIOCESE DE MOSSORÓ – DIOCESE DE CAICÓ)
ASSOCIAÇÃO DE IGREJAS EVANGÉLICAS - DIACONIA
À
Presidenta Dilma Roussef
À
Governadora RosalbaCiarlini
Aos
Prefeitos e Prefeitas Municipais
ÀPopulação
Norteriograndense
CARTA DO CAMPO POTIGUAR:
pela afirmação da VIDA
no Semi Árido
e o enfrentamento da SECA, sua indústria e
seus (des) governos
Natal, 24 de maio de 2012.
O grande problema
não é a SECA,
mas a sua mesquinha
indústria e suas CERCAS...
Vivemos hoje uma das piores secas dos últimos
30 anos de nosso semiárido brasileiro, que poderá, infelizmente, se prolongar
até 2013. Dos 167 municípios potiguares, 139 já decretaram Situação de
Emergência. Muitas das populações desses municípios, até mesmo em casos de
alguns servidos por adutoras, estão passando sede até na zona urbana com o
colapso de seus sistemas de abastecimento. Pais e mães de família estão saindo
de suas comunidades rurais, de reconhecidas produções leiteiras, para fazer
filas nas mercearias e prefeituras a fim de conseguir 1 litro de leite para
seus filhos. Agricultores/as sem o que colher e criadores/as sem o que oferecer
para seus animais tentam fazer algum dinheiro com a venda de uma cabeça de
gado, por um terço do valor, e muitas vezes não acham quem a compre.
Numa avaliação unânime dos movimentos sociais
do campo, é preocupante a falta de iniciativa própria do governo do RN.
Percebemos a ausência de um plano de enfrentamento dos efeitos da seca
(emergencial) e de convivência (estruturante e pedagógico) para a Agricultura
Familiar e o semiárido, seus problemas e respectivas propostas de soluções às
reivindicações apresentadas pelas representações dos trabalhadores/as. A
postura é exclusivamente de pedir e esperar pelo governo federal. Nota-se a
falta de planejamento, criatividade e postura pró-ativa!
Mediante este quadro emergencial de estiagem
prolongada e de baixa resolutividade das autoridades públicas, no sentido de
efetivar um diálogo produtivo com as representações da Agricultura Familiar e
fazer acontecer medidas ágeis e eficazes, emergenciais e estruturantes, de
enfrentamento aos efeitos cruéis da seca, o conjunto das Forças Sociais
reunidas no Fórum do Campo Potiguar - FOCAMPO vem através desta Carta, abrir o
diálogo com toda a sociedade norteriograndense e suas autoridades constituídas.
Falamos em nome dos que mais sofrem com a seca, aqueles que têm suas VIDAS EM
RISCO. Somos nós: agricultores e agricultoras, sem terra, igrejas, associações,
sindicatos, federações de sindicatos, ongs, cooperativas... Povo de Deus
calejado e organizado. Temos apreendido a respeitar e conviver com o nosso
ambiente semiárido e seus ciclos de estiagem e queremos contar pra todo mundo:
‘o semiárido é lindo e passível de uma agricultura diversificada e
sustentável. Nós já vivenciamos esta experiência sócio-ambiental há décadas,
mas nos faltam acolhimento e apoio do Estado para universalizá-la’!
Há 10 anos atrás esta seca de hoje já teria
se alastrado numa calamidade social de grandes proporções, de sede, fome e
êxodo frenético para os grandes centros urbanos. Vivemos uma das maiores
estiagens de nossa história e não estamos assistindo a cenas de desespero e
saques de alimentos. Temos a convicção de que as experiências de convivência
com o semiárido que, como sociedade civil organizada, conseguimos gerar e
gerir, conquistar e difundir enquanto políticas públicas do Estado brasileiro,
como o Programa 1 Milhão de Cisternas, efetivamente melhoraram as condições de
vida e de produção das famílias camponesas e estão ajudando a fazer a diferença
no enfrentamento deste início de seca. O que demonstra que a convivência com o
semiárido e a superação das conseqüências da seca são possíveis, na medida em
que há COMPROMISSO DE INVESTIMENTO DOS GOVERNANTES E ABERTURA PARA O DIÁLOGO E
A ARTICULAÇÃO com as entidades organizadas do povo do semiárido, propondo e
construindo alternativas apropriadas às realidades, às necessidades e às potencialidades
das experiências já vividas por este povo.
Na contramão dessas experiências de produção
agroecológica e convivência adequada com o ambiente semiárido, estão as
propostas intervencionistas e excludentes das grandes monoculturas irrigadas de
uso intensivo de agrotóxicos e a implantação das cisternas de plástico. A
história dos Perímetros Irrigados nos moldes do atual Projeto do DNOCs para a
Chapada do Apodi, comprova a completa inadequação social e ambiental desse
modelo de produção e desenvolvimento para o nosso semiárido. As cisternas de
plástico constituem-se num dos maiores equívocos do governo brasileiro.
Trata-se de uma tecnologia extremamente cara, ineficiente, geradora de
dependência externa e de lixo ambiental com extensão de impactos pelos próximos
500 anos. É muito importante destacar nesse momento crítico de seca que não é
qualquer pseudo-solução exógena que vai promover o desenvolvimento, a justiça
socioambiental e a qualidade de VIDA no campo que tanto almejamos e merecemos
para todos e todas.
Assim, movidos por essa realidade adversa da
atual estiagem; preocupados com a inoperância e as falsas soluções que permeiam
os agentes do Estado; amparados na solidariedade das Igrejas Católica e
Evangélica engajadas, e, principalmente, embasados nos processos e resultados
animadores da experiência prática e teórica das tecnologias e metodologias
socioambientais de agricultura familiar sustentável e convivência com o
semiárido, já desenvolvido através da ASA Brasil, queremos chamar a atenção das
autoridades e da sociedade potiguar para o que propomos:
1. Ampliação da
representação da sociedade no “Comitê Estadual da Seca” com a inserção de 05
novos legítimos representantes: igreja católica, igreja evangélica, ASA,
FOCAMPO e MST;
2. Divulgação e pressão
popular sobre os municípios que ainda não implantaram suas Comissões Municipais
de Defesa Civil, impedindo o acesso de seus agricultores a todos os repasses e
ações de atendimento pelas políticas federais de emergência. Dos 139 em
emergência, apenas cerca de 10 municípios concluíram os devidos procedimentos
de habilitação;
3. Abastecimento com
água potável das 75 mil cisternas (P1MC) de consumo humano já construídas no
estado;
4. Abastecimento das
1.000 cisternas (P1+2) de água para produção já construída no estado;
5. Liberação imediata
pelo governo do RN de recursos próprios para complementação de R$ 280,00 (5
parcelas de R$ 56,00) por família a ser atendida pelo Bolsa Estiagem, de forma
a equiparar às atendidas pelo garantia safra;
6. Disponibilização pela
CONAB para os agricultores familiares de um kit de ração animal composto por
milho, trigo, babaçu, farelo de soja e torta de algodão ao preço de custo na
fonte para salvação do rebanho;
7. Criação de um
Programa de Assessoramento Técnico, Gerencial e Pedagógico para a Gestão
Produtiva dos Recursos Hídricos, a ser executado em sistema de co-gestão com a
ASA Potiguar pelo período de 3 anos ininterruptos.
8. Concretização dos
compromissos assumidos pelo governo do estado perante as organizações dos
trabalhadores do campo:
a.
Funcionamento
autogestionário da Central de Comercialização nos próximos 30 dias
b.
Funcionamento
de todos os escritórios da EMATER com o Programa Compra Direta nas próximas 02
semanas
9. Revogação do Decreto
do governo federal que desapropria terras de assentados da reforma agrária na
Chapada do Apodi para instalação de Projeto de Perímetro Irrigado do DNOCS
10. Não à instalação das
Cisternas de Plástico no estado. Com os recursos públicos destinados a uma
cisterna plástica dá pra construir 02 Cisternas com a tecnologia social da ASA
e o mesmo volume d água.
11. Que o Estado faça a
instalação imediata de todos os poços perfurados, recuperação e manutenção dos
existentes, perfuração e instalação de novos para garantir água aos animais e
usos diversos para os agricultores familiares de todos os municípios do estado.
Inclusive, disponibilizar os equipamentos e máquinas existentes no estado e
municípios para os agricultores recuperarem seus açudes e fazerem poços
amazonas.
12. Que os Ministérios e
órgãos competentes instituam um disque denúncia por onde os cidadãos possam
denunciar possíveis práticas viciadas da antiga Indústria da SECA, de
manipulação política e de enriquecimento ilícito com os recursos e ações de
emergência para “o polígono das secas”
13. Que o Tribunal
Superior Eleitoral crie uma Campanha: “NÃO TROQUE SEU VOTO POR ÁGUA. ÁGUA É
DIREITO SEU”. O Brasil tem o dever ético de não consentir que as medidas
emergenciais da seca se transformem em instrumentos de moeda eleitoral e
desvirtuação das eleições.
Enfim,
o que reivindicamos é que o agricultor familiar do semiárido potiguar precisa
de justiça, solidariedade e respeito aos seus direitos e saberes. Que Nosso
Senhor Jesus Cristo toque mais fundo o coração de nossos governantes para que
acolham o clamor e as experiências de soluções apropriadas do Povo de Deus.
Agora (na emergência da seca) e sempre (na estruturação de obras e processos
pedagógicos de convivência com o semiárido).
Subscrevem este documento:
FETRAF
|
PASTORAL DA CRIANÇA
|
COOPERVIDA
|
ATOS
|
|
Pastor Airton Schroeder
|
SEAPAC
|
INST. CHAPÉU DE COURO
|
TECHNE
|
SAR
|
ASA Potiguar
|
TERRA VIVA
|
RENAP
|
SERTÃO VERDE
|
SAUR
|
FETARN
|
AACC
|
DIACONIA
|
PA Laje do Meio
|
CEAAD
|
MST
|
CPT
|
STTR de Passa e Fica
|
PASTORAL DO IDOSO
|
CUT-RN
|
STR de Apodi
|
COOPERCACHO
|
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