“Aqui quem bota pra frente são as mulheres” é o que diz Natália Medeiros, agricultora do Grupo de Mulheres de Palmares. Não é à toa a afirmação. As mulheres são as responsáveis pela produção nos quintais. Natália, por exemplo, mora sozinha e, em seu quintal, produz as hortaliças que vende para feira da cidade e de onde tira a sua própria renda. Um pouco mais a frente mora Maria Antônia, conhecida como Branca que, diferente de Natália, não vende a produção de seu quintal, mas dele tira frutas e hortaliças para o seu consumo e de sua família: “em vez de tá comprando, eu já tenho em casa e isso economiza muito!”. No quintal de Branca tem: banana, caju, manga, tamarindo, limão, laranja, côco, acerola, pinha, cajarana, siriguela, graviola, hortaliças diversas e plantas ornamentais como rosas e palmeiras que ela ama.
Natália e Branca são do grupo de mulheres da Agrovila Palmares, Apodi/RN. Palmares nasceu a partir de um projeto de assentamento modelo idealizado no final dos anos 90 pela Força Sindical e Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo que, chegando à Apodi, fez um processo de seleção de 30 famílias e capacitação das mesmas. Das 30, 28 famílias foram aprovadas para receber os benefícios previstos e em maio de 2000, cada uma dessas famílias recebeu uma casa, com televisão e bicicleta, em uma estrutura com água, luz, transporte escolar e duas matrizes de caprinos”, lembra Nova. Com o tempo, por falta de recursos, o sindicato parou de investir no assentamento e em 2006 doou as casas e um quintal de 100 metros para as famílias e as terras coletivas para a associação da comunidade.
A partir da associação e do trabalho conjunto com a Comissão de Mulheres do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Apodi – STTR, formou-se o Grupo de Mulheres de Palmares em 2006 e, neste mesmo ano, o Centro Feminista passou a atuar diretamente na comunidade com assistência técnica para produções nos quintais, formação feminista e fortalecimento da auto-organização.
O grupo Mulheres de Palmares conta com a participação ativa de 16 mulheres da comunidade que se reúnem mensalmente para debates e articulação da participação nos espaços de discussão e tomadas de decisões. Foi através da participação no STTR que, em 2011, as mulheres souberam que o projeto do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – DNOCS desapropriaria mais de 13 mil hectares de terras do lado potiguar da Chapada, onde vivem mais de 800 famílias, para dar lugar à instalação do Projeto de Irrigação Santa Cruz do Apodi, evidenciando uma política de irrigação em benefício da expansão do agronegócio.
As mulheres de Palmares fizeram o enfrentamento direto contra a tomada de seu território pelo projeto do DNOCS e em defesa da agroecologia em 2012/2013. Os atos de rua que contaram com mais de 3 mil mulheres e campanha internacional nas redes sociais junto ao movimento Marcha Mundial das Mulheres mostraram a força da auto-organização da qual as mulheres de Palmares protagonizaram.
Para Branca, a união e a oportunidade de fazer a luta também fora da comunidade são motivos de alegria e pelos quais a fazem continuar firme e forte no grupo. Natália afirma:“depois que entrei no grupo, eu aprendi muita coisa com as outras mulheres. Pra mim, a melhor coisa de morar em Palmares, além da água, é as mulheres e a nossa organização que faz a gente ser mais independente”. A experiência das mulheres de Palmares é uma prova do quanto a auto-organização contribui para defesa dos territórios, resistência nas lutas por direitos e a autonomia das mulheres.
*Fotos de Wigna Ribeiro
Fonte: Centro Feminista 8 de Março
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