sexta-feira

2012: o Ano Internacional das Cooperativas.


Por João Previattelli

Da Página do MST

O ano de 2012 foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional das Cooperativas. Enquanto forma de organização democrática, as cooperativas podem ser utilizadas como um meio de redução da pobreza, inclusão econômica e social de grupos que historicamente são excluídos da sociedade capitalista como, por exemplo, os indígenas, as mulheres e os pequenos agricultores.
Para Milton Fornazieri, da coordenação de produção nacional do MST e presidente da Confederação Nacional das Cooperativas de Reforma Agrária no Brasil (Concrab), essa decisão da ONU se torna uma oportunidade para que esse modo de organização avance com mais força. “É um reconhecimento do processo cooperativo que está presente no mundo inteiro e isso pode incentivar sua continuidade”, acredita.
Fornazieri explica que há duas formas de organizar a produção: a individual – e que a cada dia vem se torna mais difícil -, e a outra é de maneira organizada e coletiva.
“Dentro desse campo (organizada) é que entra a cooperativa. Ela é uma ferramenta que expressa o trabalho cooperado. Outro elemento central é a aglutinação do trabalho que existe não só dentro dos assentamentos, mas também entre os assentamentos”, pontua.
São diversos os benefícios trazidos por essa prática, principalmente para os pequenos produtores rurais, que encontram nas cooperativas uma força maior para negociar e compartilhar seus alimentos.
De acordo com a ONU, há no mundo mais de 800 milhões de associado, gerando cerca de 100 milhões de empregos - 20% a mais do que gera as empresas multinacionais. Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) aponta o modelo de cooperativas enquanto uma premissa essencial para eliminar a fome dos cerca de 1 bilhão de famintos que existem no mundo inteiro.
No entanto, de acordo com Fornazieri, apenas esse reconhecimento da ONU não é suficiente para que esse modelo de produção se desenvolva com mais vigor. É necessário que haja, sobretudo, políticas públicas mais eficazes voltadas para o setor, “principalmente junto ao Ministério da Agricultura, que visa apenas às grandes cooperativas tradicionais, que de cooperação tem pouca coisa além do nome”, ressalta.
Isso implica na mudança do modelo predominante de agricultura praticado no Brasil e na maior parte do mundo: o agronegócio, cuja base produtiva não se respalda na produção de alimentos, e sim no monocultivo de commodities voltada para o mercado externo, com a utilização de enormes quantidades de agrotóxicos, sem a geração de grandes quantidades de emprego e se utilizando da mão de obra barata, fomentando a precarização do trabalho.

quarta-feira

Virtudes da crise: O cidadão e o ambiente

Por:  Luiz Gonzaga Belluzzo
A crise global tem lá suas virtudes. Entre as raras, lançou os economistas nas hostes da defesa do ecúmeno. Em alguns casos, leio e vejo o tema tratado com respeito. Respeito e sem despeito pelo sujeito que realmente interessa na relação economia–sociedade-natureza, o cidadão e suas condições de vida.
Kenneth Rogoff publicou um artigo implacável sobre o tema, sem flutuar nas indefinições convenientes que opõem genericamente o progresso econômico à preservação ambiental. Progresso e econômico são nominações sem conceito e se prestam a tergiversações ideológicas e álibis interessados. Nessas caixas aconcentuais cabem quaisquer contrabandos, como, por exemplo, o consumismo desaçaimado, introduzido na história como um deus ex machina.
Em seu artigo, Rogoff revela algumas inclinações perigosas num mundo que se acoita nas paliçadas do politicamente correto. Uma delas é dar o nome e endereço dos processos que desataram a agressão ao ecúmeno e à vida civilizada no planeta. “A sistemática e ampla falha regulatória é o elefante enfiado na sala do capitalismo ocidental.” Rogoff diz que a dinâmica político-financeira levou ao ataque cardíaco da economia em 2008, mas está interessado em ir além e investigar as mazelas constitutivas, estruturais, do dito capitalismo ocidental. Cuida da indústria de alimentos e de sua influência “maligna nos padrões de nutrição e na saúde dos cidadãos”. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças constatou que um terço dos adultos americanos é de obesos. Ainda mais chocante: entre seis crianças, uma é obesa. Os custos da obesidade não se restringem aos danos causados aos indivíduos, mas pesam no bolso da sociedade sob a forma de maiores gastos com saúde.
Luiz Gonzaga Belluzzo é economista e professor, consultor editorial de CartaCapital.

Embrapa é acusada de violar dignidade de trabalhadores

Maria Melo
De Brasília
Trabalhadores são obrigados a passar as noites isolados, privados do convívio social e familiar, sem estrutura de alojamento e alimentação adequada
A exploração de trabalhadores no Norte do país já não é privilégio apenas de empresas privadas e latifundiários. No início de janeiro, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf) denunciou a existência de pessoas em condições degradantes de trabalho no Campo Experimental do Distrito Agropecuário da Suframa, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Amazônia Ocidental, localizado em Presidente Figueiredo (AM).         
Distantes cerca de 50 quilômetros da cidade onde vivem, Manaus, os trabalhadores são obrigados a passar as noites entre segunda e sexta-feiras isolados no campo, privados do convívio social e familiar, sem estrutura de alojamento e alimentação adequada, atendimento médico ou acesso a telefone.    
A situação veio à tona quando a presidenta da Seção Sindical Amazônia, Simone Alves, começou a apurar um caso de desentendimento entre empregados ocorrido fora do expediente de trabalho, que gerou a suspensão irregular de um deles. “Descobrimos que eles são obrigados a passar as noites lá para que a empresa não gaste com transporte. Além disso, são usados para vigiar o campo experimental – o que caracteriza desvio de função. Não ganham hora de sobreaviso nem hora extra”. Segundo a sindicalista, eles também são obrigados a cozinhar a própria comida e a se alimentar em um refeitório improvisado em meio a fezes de morcegos e ratos espalhadas pelo chão e paredes, sem qualquer condição de higiene. O lugar onde dorme o trabalhador José Maria, conhecido por Fumaça, é na verdade um miniauditório abandonado. Nenhum alojamento do campo possui mobília nem cama, tampouco fornecimento de lençóis ou de colchões.          
Jornada exaustiva
A jornada de trabalho no local também é exaustiva: apenas oito trabalhadores da Embrapa e dois terceirizados cuidam de toda a área, que tem cerca de cinde mil hectares e dezenas de experimentos em andamento, envolvendo plantas e animais. “É preciso caminhar por cerca de três horas na mata carregando equipamentos e insumos para chegar aos locais dos experimentos em determinadas épocas no ano”, conta a diretora de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente do Sinpaf, Mirane Costa. 

Em desacordo com o Acordo Coletivo de Trabalho da empresa, que estabelece o direito de ir e vir do local de trabalho diariamente após o início e fim da jornada, não há transporte para os operários do campo. “Mas o supervisor da área tem carro da Embrapa com deslocamento diário até sua residência em Manaus”, destaca a diretora.   
De acordo com a dirigente, a supressão do direito ao convívio social e familiar diário também é vista como contribuinte aos casos de degradação do ambiente de trabalho, brigas e intrigas internas e ao alto índice de dependentes alcoólicos no grupo. “Dos oito trabalhadores, identificamos pelo menos três com essa dependência, associada por diversos estudiosos da relação de trabalho como doença promovida pela degradação das condições laborais. Há relatos de estresse e esgotamento mental, inclusive com denúncias já formuladas junto ao Ministério Público Federal e com atestado médico – neste caso para o Campo Experimental do rio Urubu, também pertencente à Embrapa em Manaus e gerido em condições semelhantes”.           
Como não há serviço de vigilância, os funcionários são forçados a fazê-lo de forma involuntária, sem qualquer preparo para defender suas vidas e o patrimônio da Embrapa – que os imputa informalmente a responsabilidade pelo serviço.   

terça-feira

“Apenas a agricultura camponesa vai alimentar o mundo”, diz especialista .

Por Raquel Júnia
Da Fiocruz


“O sistema de agricultura industrial trabalha com, no máximo, 150 variedades de alimentos. No entanto, o foco principal deles está em 12 variedades. Eles alegam que se puderem fazer uma engenharia dessas 12 variedades, resolvem a questão da alimentação. Enquanto isso, a rede mundial de agricultura camponesa trabalha com sete mil espécies. Então, quem vocês acham que vai nos dar as maiores chances de nos alimentar diante das mudanças climáticas?”, questionou Mooney.

A ETC Group realiza uma série de estudos sobre os mecanismos das multinacionais para tentar privatizar a biodiversidade do planeta. Segundo o pesquisador, desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, as indústrias do sistema agroalimentar produziram 80 mil variedades de plantas. Entretanto, 59% dessas variedades são de espécies ornamentais. “Comparado a essas 80 mil variedades que as indústrias produziram, a agricultura camponesa mundial produziu 2,1 milhões de variedades. Então, quem tem a flexibilidade para suportar as mudanças climáticas?”, ponderou. De acordo com Mooney, na criação de animais a desproporção na diversidade de produção do agronegócio e da agricultura camponesa se mantém - na criação de peixes, por exemplo, o agronegócio cria 363 espécies, já a produção artesanal dos camponeses trabalha com 22 mil espécies.

Mooney também apresentou dados sobre a preservação dos solos. “As empresas de fertilizantes conseguem destruir 70 bilhões de toneladas da camada fértil do solo por ano. Já os sistemas camponeses de produção conservam 140 bilhões de toneladas dessa camada do solo”, informou. O pesquisador disse ainda que as empresas do agronegócio tentam buscar nos territórios dos camponeses a diversidade preservada por eles para que possam realizar cruzamentos em laboratório. Segundo Mooney, as empresas estão em busca de espécies silvestres existentes nos territórios camponeses ou nas zonas próximas e nas florestas ao redor dos territórios camponeses, que contabilizam uma diversidade de 50 a 60 mil espécies silvestres.

Campo de batalha na Rio+20

Para Mooney, a pressão sobre o Brasil duplicou com a escolha recente de um brasileiro como secretário executivo do Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, o ex-secretário nacional de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias. Segundo Mooney, a Conferência Rio+20 será um campo de batalha sobre a biodiversidade do planeta, que já perdeu para as corporações 23,8% das espécies.  “O que o capitalismo vem buscar aqui são os 76,2% que restam. Essa é a batalha do Rio. Com a crise das hipotecas em 2007, nós já demos aos banqueiros 14 trilhões de dólares. Agora, se aceitarmos essa nova proposta de financeirização da natureza, o que estamos dizendo para aqueles mesmos bancos é que eles podem vir e brincar em nosso jardim. Seremos insanos se aceitarmos isso”, finalizou.

Latifúndio improdutivo impede desenvolvimento de regiões no Maranhão


 Por Reynaldo Costa
Da Página do MST

No Município de Bom Jesus das Selvas, centro oeste do Maranhão, a área urbana da cidade só cresce beirando a rodovia, que corta a localidade ao meio. Isso acontece porque imensos latifúndios impedem o surgimento de novas moradias.

Uma área grilada com cerca de 12 mil hecatres pertencente a União - como consta um relatório da Superintendência de Regularização Fundiária da Amazônia Legal -, havia sido ocupada este ano por cerca de 300 famílias sem terra.
Entretanto, na manhã desta última sexta-feira (10), as famílias que ocupavam a área foram despejadas irregularmente. Como a área é da união, somente a justiça federal tem competência para tal ação. No entanto, mesmo assim depois de comunicado formalmente pelo superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Estado, o comando local da PM realizou a operação.
Além da desapropriação para a criação de assentamento rural, as famílias reivindicam que parte da área seja destinada para projetos habitacionais do governo municipal. Entidades denunciam que o município perdeu projetos federais para habitação por não existir terrenos para a construção das moradias.