quinta-feira

Saiu da escravidão, "nasceu" de novo, e hoje "vive a vida".

Valdeni da Silva Medeiros já foi escravizado diversas vezes. Depois de muito sofrimento, "renasceu" na luta pela terra, junto com outras famílias, no assentamento Santo Antonio do Bom Sossego, em Palmeirante (TO)

Por Carolina Motoki*
Valdeni da Silva Medeiros é um trabalhador que, aos 38 anos, ocupa uma fazenda onde já foi escravizado. Na luta pela terra, renasceu. Aprendeu a viver. Na nova vida, sofre ameaças de morte. Mas, se nem considerava vida seu modo de existir antes do assentamento Santo Antonio do Bom Sossego, em Palmeirante (TO), no norte do Estado, como pensar em abrir mão das conquistas? Assim, resiste.


Ele foi um dos participantes de encontro de formação realizado no próprio projeto de assentamento pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) em parceria com o programa "Escravo, nem pensar!", da Repórter Brasil.

A seguir, Valdeni da Silva Medeiros conta sua história.
 
"Não tinha conhecimento dos meus direitos. Recebi o pouco que ele quis pagar e fiquei quieto"

Meu nome é Valdeni, nasci em Colinas, norte do estado do Tocantins. Só tive mãe. Não conheci meu pai. Tenho oito irmãos. Morei na terra de um padrasto durante um bom tempo, até chegar uma idade de 18 a 20 anos. Então, aconteceu que minha mãe teve que separar. A gente não tinha pra onde ir e teve que ir pra um bairro da cidade, construir barracão de palha e morar lá. Não tinha estudo, então comecei a trabalhar na juquira ["limpeza" de terreno para a formação de pastagem para a pecuária] pra poder manter a despesa da cidade, pois não tinha mais onde plantar. Os "gatos" [aliciadores de trabalhadores] vinham, contratavam a gente, abonavam, levavam pra trabalhar e a gente ia fazer roçado ou serviço que fosse combinado. Fiquei impossibilitado de ter algum conhecimento, nem de direito, nem de autoridade.
 

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