Por Bruno Peron
[EcoDebate]
Os conceitos comumente aceitos de desenvolvimento vinculam o aspecto
humano de qualidade de vida ao utilitarismo do crescimento da economia,
da empregabilidade e do aumento de renda. No entanto, a maior
dificuldade desta perspectiva sobre o desenvolvimento é a de provar que
os ajustes estatísticos, que informam aumento do Produto Interno Bruto
ou do salário mínimo, levam mais conforto à vida das pessoas em
situações diversas de sobrevivência.
Isto se deve a que o crescimento econômico por si não gera
necessariamente desenvolvimento porque os benefícios quase sempre se
concentram em empreendimentos de êxito e em regiões do país que possuem
grande atração de investimentos. Recursos governamentais destinam-se,
por um lado, a áreas onde a riqueza gera oportunidades e, por outro, a
outras onde a pobreza se reduz pela inserção de famílias em classes de
maior capacidade de consumo de bens materiais. O desenvolvimento do país
exige a integração equânime das partes envolvidas.
O Brasil mantém o crescimento econômico num nível satisfatório e
mundialmente prestigioso, embora os proventos concentrem-se nalguns
estados e sua distribuição seja ineficiente nas regiões mais carentes de
recursos e de atenção governamental. O desenvolvimento é para estes uma
promessa do governo federal e um dom que seus recursos naturais e
humanos lhes reservam na culinária, no turismo, na agricultura e nalguns
setores industriais quando existem.
O déficit de desenvolvimento nas regiões Norte e Nordeste em relação a
Sudeste e Sul não se resolve com a imitação do modelo de
industrialização e urbanização destas duas últimas. Este cenário seria
humanamente catastrófico e ambientalmente insustentável. É preciso
transformar as capacidades produtivas das regiões menos desenvolvidas em
fontes de renda, trabalho e satisfação de suas comunidades, famílias e
populações urbanas.
A integração do país passa pelo reconhecimento da funcionalidade de
cada região e pela complementaridade de suas atividades econômicas. A
adesão definitiva da Venezuela ao Mercado Comum do Sul, deste modo, gera
novas necessidades de adaptação do Brasil setentrional a um bloco
promissor de auxílio mútuo sul-americano frente a um mundo em que a
integração resiste à dureza da competição entre economias nacionais.
Integrar para o desenvolvimento significa ter maior consciência da
função que cada região do Brasil ocupa nos laços débeis que atam estados
remotos da Federação aos eixos industriais da modernidade brasileira.
Não me convenço de que o caminho ao desenvolvimento é um só porque há
fatores de qualidade de vida compartilhados por comunidades tradicionais
das que os indivíduos urbanos pouco sabem enquanto submersos na
modernidade.
O desenvolvimento que melhora a qualidade de vida e não só os dados
econômicos que aumentam a aprovação do gestor público frente a seu
eleitorado supõe a valorização do próprio e da criatividade de quem
agrega valor àquilo que sua região de origem produz. Sendo assim,
escassez e pobreza são dois mitos centrados numa visão ingênua das
capacidades do outro de melhorar sua qualidade de vida devido ao
desconhecimento de quem enxerga de fora.
A integração implica um olhar sobre as territorialidades desiguais do
Estado-nacional brasileiro, que continua sinalizando sua importância
diante da ação de atores transnacionais egoístas e do campo diverso de
atuação das mesmas instituições do governo federal que formulam
políticas para todos os estados e regiões do país. A necessidade de
retidão na definição de projetos públicos supera as avaliações
precipitadas das igualdades que não existem.
O Brasil está para ser pensado em relação à sua enorme extensão
territorial, que convida os gestores públicos a enfrentar desafios para
integrar seu povo à nação e aprender com a diversidade, e também quanto
ao modelo de relação com a economia globalizada e com a movimentação
nacional e internacional de informações, investimentos, pessoas e
estereótipos.
Falta conhecer o que significa qualidade de vida em cada contexto de
acordo com a história e a necessidade de seus moradores nas regiões
diversas do país. Conhecer é o primeiro passo para integrar; em seguida,
vem o desenvolvimento que satisfaz a coletividade.
* Colaboração de Bruno Peron Loureiro, mestre em Estudos Latino-americanos, para o EcoDebate, 27/12/2012
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