quinta-feira

Feijão mais caro por causa da estiagem

Ellen Dias
Especial para o Jornal de Fato

Desde o início desta semana, o consumidor mossoroense vem sentindo no bolso a alta no preço do feijão. O quilo do alimento, que custava cerca de R$ 3,00, saltou para R$ 4,50, podendo chegar a R$ 4,99, dependendo do local de compra.
Morador de uma localidade rural do município de Areia Branca, Geraldo Bento de Souza trabalha como vigilante e todo ano cultiva uma pequena produção nas proximidades de sua casa. O homem, que planta para consumo próprio, revela que neste ano não conseguiu obter resultados e já esta tendo de pagar pelo produto: "Neste ano não houve safra; não tirei nem a semente que plantei."
Geraldo não foi o único que teve prejuízo na agricultura em 2010. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Lavoura de Mossoró (STLM), Francisco Gomes, a perda neste ano foi de 100% e muitos produtores ainda não receberam o Garantia-Safra (seguro disponibilizado para os agricultores em caso de perda total da produção). "A situação é precária. Os agricultores familiares sobrevivem disso e quando passam por um período de seca a situação piora. Eles plantam para o consumo e reservam uma parte para vender. Neste ano não tiraram nem o do consumo", declarou. Francisco alertou ainda que o período de alta nos preços está apenas começando e que o quilo do feijão pode chegar a custar de R$ 7,00 a R$ 8,00. De acordo com informações do sindicato, cerca de 800 trabalhadores foram inscritos no Garantia Safra no ano passado e ainda estão esperando para receber o benefício.
O problema se reflete também para os revendedores e comerciantes, que não encontram o produto na região e têm que buscar alternativas em outros Estados, inclusive do Sul e Sudeste. Welma Alexandre é gerente de loja de um supermercado e revela que o preço de compra dobrou nos últimos 15 dias: "Comprávamos uma saca de 60g por R$ 120. Nesta semana compramos por R$ 240,00.Tentamos ao máximo não repassar isso para o consumidor, mas não tem como. Estamos comprando feijão da região Sul e, mesmo com o preço elevado, a disponibilidade do produto está dificultando as negociações." O pequeno comerciante enfrenta os mesmos obstáculos. Francisco Humberto de Andrade trabalha nesse ramo há seis anos e diz que os consumidores estão insatisfeitos: "Eles reclamam muito, principalmente do preço do feijão. Perguntam o porquê desse aumento. Aumentou porque o feijão vem de fora, não houve inverno, é feijão de irrigação e ainda tem o transporte."
A tendência é nacional. No Paraná, maior produtor de feijão do país, a safra também não foi suficiente. No início do ano o preço na região subiu porque a safra foi prejudicada pelo excesso de chuvas. Após um período estável, a tendência de alta volta a se confirmar, dessa vez por causa da estiagem.

2011 pode ser melhor, mas ainda não há dados
Ainda é cedo para fazer previsões para 2011, mas a tendência, na opinião de estudiosos, é de que a situação se reverta.
A média anual do volume de chuvas em Mossoró é de 700mm por ano. Em 2010, esse valor ficou em 491mm. Meteorologistas comparam o período ao ano de 2005, quando o volume foi de 540mm.
Entretanto, o problema não está diretamente relacionado ao volume de chuvas, e sim, com relação à distribuição: "Em 2004 choveu 1200mm e não teve produção; as chuvas foram em janeiro. Em 2005 choveu menos, mas a produção foi melhor porque o volume foi bem distribuído entre os meses. Neste ano, dos 491mm que tivemos, 200 caíram só no mês de abril", afirmou o meteorologista José Spínola Sobrinho.
O país está sob a influência do fenômeno "El Nino", que tende a provocar períodos de estiagem no Nordeste. Para o ano que vem, está se formando um fenômeno de efeito oposto, o "La Nina". Entretanto, isso não garante um ano chuvoso. Spínola explica que "a distribuição de chuvas em termos de Nordeste é muito complicada. Ainda é muito cedo para fazer previsões". Dados mais precisos só começarão a ser obtidos a partir de dezembro.

Outros produtos, mesmos problemas
Não foi só o preço do feijão que foi afetado por esses problemas. O mercado indica uma tendência de alta em diversos produtos da agricultura.
Marcos Antonio Catim é subgerente de loja de um supermercado e aponta uma oscilação em diversos produtos: "O açúcar está numa variação constante, a farinha de trigo, que era R$ 64,00 uma saca com 50kg, está custando agora R$ 112,00. Isso se reflete no preço do pão. Os cereais também estão sempre oscilando."
O preço do milho também subiu. Se antes pagava-se R$ 32,00 por uma saca de 60kg, cobrando-se por quilo R$ 0,60, hoje esse valor passou para R$ 0,80 por quilo, visto que a saca está custando R$ 36,00.
De acordo com o analista de extensão rural do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) em Mossoró, Marcos Romoaldo Barbosa, a produtividade não é suficiente para atender a demanda do mercado local: "De uma forma geral, neste ano a safra foi menor. Em todo o Oeste como no Alto-Oeste, a produção foi baixíssima. A cultura do milho e do feijão prevalece em alta. A produção foi muito prejudicada devido às baixas chuvas. A região tem poucos produtores que podem utilizar o sistema de irrigação."
Fonte: Jornal de Fato

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