quinta-feira

Drama das famílias às margens do Apodi


FOTO:  MARCELO BENTO
Homem atravessa o rio Apodi, que
tomou a estrada que dá acesso à região baixa de Felipe Guerra.

O estudante Adairton de Oliveira Tavares, de 17 anos, deu graças a Deus porque os professores da rede estadual de ensino entraram em greve. Assim, ele não perde o ano escolar. Esse paradoxo acontece devido à falta de acesso da localidade de Rosário, onde mora Adairton, à cidade de Felipe Guerra, onde fica sua escola. Quando há inverno, a correnteza do rio Apodi deixa mais de 90 famílias de três localidades na região mais baixa do município ilhadas.
Adaelson, irmão de Adairton, tem 15 anos e, como ainda está no 9° ano do ensino fundamental, precisa atravessar o rio duas vezes, todos os dias, para poder chegar até a escola. "Logo aqui no quintal de casa eu passo com água por aqui", diz o estudante, fazendo o sinal com a mão acima do peito. "Quando chego à comunidade de Passagem Funda tem uma canoa que atravessa os estudantes", complementa.
Até o caçula, Andrade, de quatro anos, enfrenta essa peregrinação. Mas quem sofre é sua mãe, Maria Edilene, de 41 anos, que precisa atravessar o rio toda manhã para deixar o filho na escolinha do município em Passagem Funda.
O agricultor Milton Cardoso, "Miltinho", de 39 anos, precisa levar seus filhos - um casal - para a escola todos os dias na mesma situação. Ele reclama que só consegue chegar à cidade de Felipe Guerra porque os amigos Raimundo Henrique e François estão passando por conta própria as crianças. "A gente pode dizer que eles fazem isso por bondade", explica Milton. Os moradores costumam dar agrados aos canoeiros pela boa ação.
Ele possui uma motocicleta, mas, geralmente, as estradas ficam intransitáveis. O transporte foi adaptado para enfrentar a lama. Ainda assim, o agricultor disse que é difícil manter o controle quando chove.
A outra opção de Miltinho é a estrada do Rosário, pela cachoeira do Roncador, que corta a encosta do rio, chamada pelos moradores de "croa do rio". A reportagem do JORNAL DE FATO teve acesso à localidade de Rosário por essa estrada, mas com muita dificuldade. Foram necessários mais de 20 minutos para percorrer um trecho de sete quilômetros - estreito, sinuoso e cheio de pedras calcárias. Para chegar até as casas, só andando.
Milton Cardoso, pai de Miltinho, tem 65 anos, é um dos mais preocupados. Para fugir das enchentes comuns na região baixa de Felipe Guerra, ele construiu uma casa de taipa numa área mais alta, para escapar da subida do rio. "Basta chover para que todo mundo fique sem acesso", explicou. Morando com a esposa, também idosa, Milton tem medo de doença, visto que não pode contar com socorro.

Do alto da "croa" do Rosário dá para avistar as casas da localidade de Fazenda Nova, mas para chegar até lá, só atravessando o rio com água acima da cintura. Os vereadores Ubiraci Pascoal e Salomão Gomes reclamam que a situação se repete em todo inverno. "Neste ano, já faz três meses que essas famílias estão nesta situação", critica Ubiraci.

Por.: JOTTA PAIVA
De Felipe Guerra
Fonte: Jornal De Fato

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