D. José Rodrigues faleceu na madrugada
do dia 9 de setembro, em Goiânia; quando chegou a Juazeiro em 1975 para
ser bispo, a barragem de Sobradinho estava em construção. Então, ele
assumiu a sorte dos relocados, depois dos pobres em geral e nunca mudou
Roberto Malvezzi (Gogó)
D.
José Rodrigues foi o homem certo, no lugar certo, na hora certa. Quando
chegou a Juazeiro para ser bispo, a barragem de Sobradinho estava em
construção. Então, ele assumiu a sorte dos relocados, depois dos pobres
em geral e nunca mudou. Chegou em 1975.
Aqui era área de segurança
nacional, regime militar, ACM governador, prefeitos nomeados pelo
presidente da república. Não havia partidos, nem organizações populares.
Então, com poucos padres e religiosas, chamou leigos para apoiar os 72
mi relocados. Assim, a diocese foi durante muito tempo o abrigo para
cristãos, comunistas, ateus, qualquer um que movido pela justiça
assumisse a causa do povo.
Depois enfrentou o período das longas
secas. Criou pastorais populares. Fez o opção radical pelos pobres e
comunidades eclesiais de base. Usava as rádios e seu poder de
comunicação para defender os oprimidos pelo peso dos coronéis e do
regime militar.
Quando um gerente do Banco do Brasil foi
sequestrado, ele aceitou ser trocado. Ficou sob a mira dos revólveres
por dias, começando sobre a ponte que liga Juazeiro a Petrolina. Depois
visitou seus sequestradores na cadeia e ainda fez o casamento de um
deles.
Abrigou na diocese toda convivência com o semiárido, muito
lembrado nesses tempos de estiagem. Por isso, quando a ASA fez um de
seus encontros nacionais, quis fazê-lo em Juazeiro para homenagear esse
profeta do semiárido.
Costumava contar que recebeu muitos
presentes quando chegou e foi reverenciado pela elite. No terceiro ano
ganhou três camisas. No quinto ano ganhou de presente uma única camisa
dada por uma prostituta que frequentava a escola Senhor do Bonfim,
trabalho feito junto às prostitutas da cidade.
Quando foi embora
saiu com toda a mudança que trouxe: uma mala que cabia uma muda de
roupas – que ele lavava todas as noites para vestir no dia seguinte – e
seu livro de oração.
Na celebração de despedida afirmou na catedral: “Nunca trai os pobres, nem em época de eleição”.
D.
José faleceu na madrugada do dia 9 de setembro, em Goiânia, comunidade
redentorista de Trindade, para onde foi depois de 28 anos em Juazeiro.
Seu
corpo será transladado para Juazeiro na segunda-feira (10), onde será
enterrado. Aqui, sua memória jamais será esquecida por aqueles que com
ele conviveram, sobretudo, pelos em situação de pobreza, nos corações
dos quais ele reside.
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