terça-feira

O pasto acabou e agora?

O abastecimento na zona rural das cidades da região do Alto Oeste está comprometido em decorrência do inverno fraco. Os açudes de pequeno porte estão secos e os de médio porte, em sua maioria, estão com o volume de água imprópria para consumo humano. Já os grandes reservatórios oscilam entre 40% e 60% de sua capacidade total de armazenamento. O rebanho está sendo alimentado com farelo de milho e as casas abastecidas com carro-pipa.
Na zona urbana, o abastecimento é feito pela Companhia de Água e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN) em dias alternados. Não preocupa. Mas na zona rural, o cenário é preocupante. Se não chove, a safra não vinga e o alimento dos animais fica escasso. No caso da região Oeste do RN, água até existe (às vezes provenientes de poços), tanto para o abastecimento humano como animal. O que não existe mais é pasto. A vegetação secou.
Entre os pecuaristas, os prejuízos variam conforme o tamanho do rebanho. O fazendeiro Raimundo Lucas Moreira, conhecido na região de Apodi por Bebé de Luca Abreu, já viu reduzir o seu rebanho em 20%. Ele tinha mais de mil cabeças divididas em quatro fazendas, sendo que três em território de Apodi e uma na região do Vale do Jaguaribe. "Aqui só tem água de um poço e o gado se vira na mata procurando bagaço", diz Bebé de Luca Abreu.
O fazendeiro informou que por dia tem conhecimento de que morre cerca de 40 rezes na região. Atualmente, com rebanho de 800 cabeças, Bebé de Luca Abreu disse que abastece a fazendo do Mulungu com água de um poço, na região de Apodi e da várzea, tem cacimbões e pequenos reservatórios. O mesmo na região do Vale do Jaguaribe. "O que falta é pasto. O gado tá comendo areia", reclama o criador.
Entre os pequenos criadores, a reportagem do JORNAL DE FATO conversou com Sebastião Paulino de Carvalho, de 53 anos, residente no sítio Melancias, em Apodi. Ele disse que tinha 22 cabeças, mas já vendeu 14 para alimentar as outras e a família. Assim mesmo está com dificuldades para encontrar alimento para o seu pequeno rebanho. "Não existe milho no mercado pra gente comprar, fazer o farelo, misturar ao resíduo e ao capim seco para o gado", reclama.
Em situação parecida, está o pequeno criador Francisco Jorge dos Santos, de 62 anos, residente no sítio Baixa Fechada, em Apodi. O pecuarista diz que vendeu 7 animais e acredita que será preciso vender outros dois para conseguir os recursos que precisa para pagar as prestações do empréstimo no Banco do Nordeste e principalmente para comprar o milho e o resíduo para alimentar o rebanho restante. Cada animal ele vendeu em média por R$ 800,00, 40% a menos do valor de mercado.
O abastecimento humano é feito em todos os municípios da região Oeste por carros-pipas pelas prefeituras e o Exército. Em Apodi, por exemplo, são cinco caminhões distribuindo 400 pipas de água/mês em 114 comunidades. "Este trabalho de abastecimento é feito através de uma parceria entre a Secretaria de Agricultura, Recursos Hídricos e Meio Ambiente e o Ministério da Integração Nacional. Os recursos são liberados através do Exército", conta o secretário Eron Costa.
Entre as comunidades atendidas, está Mulungu, que fica entre Mossoró e Apodi, nas margens da BR-405. Os carros-pipas abastecem as cisternas e os moradores levam para suas casas em carroças e galões. "Este é meu caminho um dia e outro não. É para o consumo de casa. A água que o gado bebe é de um poço, que é salobra", conta o agricultor Renildo da Silva, 41, quando transportava 300 litros de água da cisterna para sua casa.

Cezar Alves
Da Redação
Fonte: Jornal de Fato.

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