segunda-feira

Grupo de trabalhadoras rurais produzem coletivamente e geram renda.

Grupo de Mulheres “Unidas para Vencer”
ANDRÉ ARAÚJO / DIACONIA
A 20 km da cidade de Caraúbas, no Rio Grande do Norte, um grupo de mulheres do Projeto de Assentamento Primeiro de Maio, composto por oito agricultoras, compartilha uma área produtiva de um hectare. Assessoradas pela Diaconia, Dona Luzimar, Vera Lúcia, Rita Alexandre, Maria Aparecida, Vanuzia Vieira, Ivanuzia do Nascimento, Antônia Damiana e Antônia Luzia, utilizam métodos agroecológicos para produzir coentro, cebola, alface, goiaba, couve, hortelã, mamão e plantas medicinais.

O que no começo era apenas para o consumo das famílias, tornou-se uma boa fonte de renda. Agora, além de vender na própria comunidade para os vizinhos e amigos, os produtos são comercializados na feira agroecológica da cidade.

Em dia de feira, elas viram à noite, organizando o material. Cada sábado, duas mulheres ficam responsáveis por ir a Caraúbas vender o que foi produzido coletivamente durante a semana. O dinheiro que ganham tem dado para custear despesas com luz, água e transporte, e ainda gerar uma renda extra para as famílias.

“Para levar os produtos para a feira, a gente aluga um carro por R$ 50,00. Além disso, a gente ainda paga uma taxa para montar e manter a barraca; no final das contas, faz diferença no lucro. Mas, pelo menos o rapaz se dispõe a transportar os produtos”, relata a agricultora de 51 anos, Vera Lúcia Pereira. Do apurado da feira, elas ainda separaram uma pequena quantia em dinheiro para colocar no cofrinho do grupo, que funciona como uma reserva para pagar despesas com consertos e manutenção.

“Já tivemos muitas melhorias aqui. A maior dificuldade sempre foi a falta d’água. Até que conseguimos um poço que tem água suficiente para plantarmos nosso roçado”, conta a agricultora Antônia Damiana, que junto à outras mulheres vem buscando alternativas sustentáveis de manejo d’água para produção.

Através do Projeto Semiá, desenvolvido pela Diaconia em parceria com a União Europeia e a agência de cooperação inglesa Tearfund, elas conseguiram implantar um sistema de irrigação por microaspersão, alternativa que possibilita uma maior economia de água, comparada a sistemas tradicionais.

Cada mulher organiza seu horário de trabalho de acordo com a sua disponibilidade. “Algumas só podem estar na área de manhã cedo. Outras, só depois de deixar as crianças na escola”, diz dona Ivanuzia, atual coordenadora do grupo. Mensalmente, elas se reúnem para tomar decisões e resolver questões administrativas. “Na reunião, a gente também decide quem vai ficar responsável pela irrigação da área produtiva. Cada dia da semana é uma mulher diferente”, conta. Por enquanto, as reuniões acontecem na sede da Associação Comunitária do Primeiro de Maio, mas elas já necessitam de um espaço próprio para se reunir e guardar as várias ferramentas de trabalho.

A formação do grupo de mulheres contribuiu bastante para a autoestima das agricultoras do Assentamento. A maioria delas não possuía renda, dependia dos maridos ou tinha como única fonte de rendimento os benefícios sociais do governo federal. Hoje, contribuem com as despesas de casa e se tornaram referência na comunidade, pela atuação que têm nos espaços de incidência política. Além da Associação Comunitária, também participam da Associação de Agricultores/as Agroecológicos do Oeste Verde – AAOEV.

Filha de agricultores, Dona Luzimar conta que trabalha no campo desde muito nova e sempre dependeu do marido. Só depois do grupo, passou a receber o próprio dinheiro. “Antes, eu achava que lugar de mulher era dentro de casa. Hoje, sinto que consegui conquistar o meu espaço. A cozinha ficou pequena para mim”, conta. Apesar da resistência que enfrentou na família e na comunidade quando nasceu a iniciativa de formar o grupo de mulheres, atualmente, o marido da agricultora é um dos maiores incentivadores de sua participação nas atividades do grupo, assim como nas viagens de capacitação e intercâmbio promovidas pela Diaconia nas áreas de economia solidária e cooperativismo.

A agricultora se orgulha da quantidade de cidades que já conheceu. “Eu perdi as contas de quantas vezes eu viajei. Antes, não saia de casa para lugar nenhum. Nos últimos anos, participei de vários intercâmbios e cursos de capacitação. Fomos para a Marcha das Margaridas e para a Marcha Mundial das Mulheres. Tive a oportunidade de conhecer vários estados e aprender bastante nesses encontros, mas também transmitir um pouco do conhecimento que adquiri durante toda minha vida dedicada à agricultura”, finaliza.

“Unidas para vencer”, as mulheres do Primeiro de Maio encontraram no trabalho coletivo a principal arma para conviverem com o Semiárido e resistirem ao machismo. O sorriso que se espalha pelos olhos das agricultoras ao ver que a terra seca se transformou em frutos é o mesmo que as mantém vivas. Depois de dez anos organizadas, estão conseguindo, aos poucos, se transformar em mulheres protagonistas de suas próprias vidas, que lutam pela garantia dos seus direitos e que trazem, marcadas na pele, a coragem e a vontade de ser mulher.
Fonte: Site da Diaconia

Nenhum comentário: