sábado

Articulação propaga consciência ambiental no Semiárido.


Cisterna de 16 mil litros de água para consumo
humano construída pela ASA. Foto: Fred Jordão

A ação da Articulação no Semiárido (ASA) propicia benefícios que vão além do acesso à água de qualidade às populações rurais de 93% (1.076) dos municípios semiáridos. Tão importante quanto o acúmulo de água da chuva através das tecnologias sociais que dissemina, a Articulação zela também pela sensibilização e informação dos agricultores e agricultoras para o melhor gerenciamento da água dos reservatórios construídos e das demais fontes que a família faz uso (poço, barreiros, açudes, etc).
Ao todo, a água acumulada nas cisternas de 16 mil litros - construídas até hoje pela ASA - é 5,2 bilhões de litros. Esse volume está distribuído em 326.719 casas, beneficiando mais de 1,6 milhões de pessoas. Para otimizar o uso deste recurso, a rede realiza capacitações com as famílias atendidas pelo Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido. Na história da Articulação – contabilizando os cursos de Gerenciamento de Recursos Hídricos e de Gestão de Água para Produção de Alimentos – foram capacitadas 358 mil famílias.
A conseqüência disto não é só o melhor uso da água na propriedade, mas a formação de uma consciência ambiental que amplia os cuidados para os bens coletivos, como rios e lençóis freáticos. Inúmeras são as histórias de organizações comunitárias, que apoiadas por entidades que formam a ASA, se mobilizam para cultivar mudas de plantas nativas e revitalizar as matas ciliares de rios ou reflorestar áreas degradadas, entre outras atitudes de preservação e conservação ambiental, como a abolição do uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos nas plantações.
Apesar de parecer óbvio, a questão da conservação ambiental ainda não conquistou espaço cativo entre as medidas preventivas quando a questão é água. No Fórum Mundial da Água, segundo reportagem divulgada no site da EPTV.com, o documento final da reunião realizada em 2003 “contém uma extensa lista de recomendações quanto ao gerenciamento dos recursos, com um solitário e lacônico artigo de quatro linhas sobre a conservação da biodiversidade”. Mais adiante a reportagem acrescenta: “a declaração do 4º Fórum, realizado no México, em 2006, é ainda mais discreta. Limita-se a afirmar: ‘notamos interesse a importância de acrescentar a sustentabilidade dos ecossistemas’”.  
Independente das motivações e grau de sensibilização das esferas governamentais e autoridades políticas, a consciência ambiental encontrou eco na população do Semiárido. Talvez porque o coração, marcado pelos desafios de viver sob o forte sol do sertão, já conhece bem as agruras da vida sem água.
Manoel Messias e a água que sai da cozinha e
 banheiro e vai para o canteiro. Foto: Helen Borborema

Nas propriedades das famílias agricultoras atendidas pelas ações da ASA o que se testemunha é o aproveitamento máximo da água, evitando qualquer tipo de desperdício. O agricultor familiar mineiro Manoel Messias criou um sistema que utiliza a água da cozinha e banho para aguar as plantas.
Ele também é adepto do sistema de irrigação por gotejamento com o uso de garrafa PET, o que tem permitido a economia de água. “Em um mês, gasto apenas 5 mil litros para molhar as fruteiras”, contabiliza ele que, em 2009, tinha cerca de 10 espécies diferentes, que frutificam o ano inteiro, com uma produção que ultrapassa a capacidade de consumo familiar. O excedente é vendido para fabricação de polpa e gera aumento da renda.
A história de Messias se assemelha à de milhares de sertanejos. Ele migrou para o sul com a mulher, Zelita Fernandes, e permaneceu por lá 13 anos. Tempo suficiente para perceber o desperdício da água da chuva que escorria nas ruas e nos telhados. “Nós deixávamos a água ir embora enquanto pagávamos muito caro para a Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo]”, lembra.
Quando voltou à sua cidade natal, Porteirinha, no Norte de Minas Gerais, encontrou um cenário propício para por em prática sua idéia de aproveitamento da chuva. Nos anos 90, a cultura do armazenamento de água e alimento estava sendo bastante difundida no Semiárido pelas organizações da rede ASA. Para guardar a água, a família de Messias recebeu uma cisterna de 16 mil litros ao lado da casa, que capta a chuva através de uma calha.
Mesmo com a cisterna, um bom volume de água ainda continuava sendo desperdiçado. Para armazená-la, Messias fez um empréstimo no banco e construiu mais uma cisterna, onde cria peixes e de onde tira água para os animais que cria e para as plantas que cultiva. Depois, a família do agricultor recebeu na sua propriedade de 0,5 hectare mais outro reservatório chamado de cisterna-calçadão, outra tecnologia difundida pela Articulação no Semi-Árido, cuja água é utilizada para produção de alimentos.
O meio ambiente, que hoje padece com tantas agressões, agradece o cuidado e responde com fartura de alimentos até em solos secos como o da região semiárida brasileira.

Por: Verônica Pragana - ASACom
Fonte: Site da ASA

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