sábado

Crescimento do agronegócio revela a necessidade de ações de vigilância de efeitos nocivos dos agrotóxicos.


Os efeitos dos agrotóxicos para a saúde humana podem ser divididos em dois grupos: agudos e crônicos. Os primeiros ocorrem quando os indivíduos, em geral trabalhadores, se expõem a uma concentração alta de agrotóxicos em um curto espaço de tempo.
O Brasil é hoje o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Desde 2006, o país só ficava atrás dos Estados Unidos. Em 2008, foi alçado ao primeiro lugar do ranking, após uma safra recorde de soja, milho e algodão. Esse mercado de alimentos movimenta aproximadamente US$ 7 bilhões por ano e representa algo em torno de 42% a 45% de todas as exportações nacionais, segundo estimativas de pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Não surpreende, portanto, que exista uma tendência ao aumento do uso de substâncias químicas no meio rural – mais de 1 bilhão de litros de agrotóxicos foram jogados nas lavouras em 2009. Esse cenário requer vigilância e controle, pois os agrotóxicos têm sido associados a prejuízos para a saúde humana e ambiental. Em outras palavras, a importância que o agronegócio adquiriu na economia e nas finanças do Brasil funciona também como um alerta para as instituições de saúde sobre as consequências e riscos da exposição aos agrotóxicos.
Entre as instituições que trabalham para detectar e combater esses riscos, destaca-se o Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/Ensp), que desenvolve trabalhos para avaliar a exposição ocupacional e ambiental aos agrotóxicos e os diferentes aspectos da contaminação por essas substâncias. Segundo o pesquisador Wanderlei Antônio Pignati, doutor em saúde pública pela Ensp e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), os impactos são negativos para o trabalhador, que aplica diretamente os produtos químicos; para sua família, que mora dentro das plantações, na periferia da cidade; e também para o ambiente, por causa da contaminação das águas dos rios e daquelas armazenadas em poços artesianos.
Os efeitos para a saúde humana podem ser divididos em dois grupos: agudos e crônicos. Os primeiros ocorrem quando os indivíduos, em geral trabalhadores, se expõem a uma concentração alta de agrotóxicos em um curto espaço de tempo. As consequências mais comuns são distúrbios nervosos e estomacais, tonteiras, desmaios, dores de cabeça, enjoos e, em alguns casos, ataques cardíacos e falências pulmonares.
Por outro lado, existem os efeitos crônicos, decorrentes de doses mais baixas do agente químico, mas por um longo período de tempo. Não há um episódio de intoxicação tão grave, porém a substância vai se acumulando no organismo do indivíduo e seus efeitos podem ser sentidos em cinco, dez, quinze ou mesmo trinta anos após a exposição. Nesses casos, os sintomas mais comuns são os cânceres e as disfunções endócrinas – muitas vezes não diretamente relacionados à exposição aos agrotóxicos, mas sim ao consumo de produtos contaminados. “Essa contaminação de populações não diretamente expostas ocorre principalmente pela alimentação. Atualmente, dois tipos de organoclorados ainda têm o uso permitido em lavouras, o endossulfan e o dicofol. Neste ano, no entanto, a Anvisa colocou em consulta pública a retirada do endossulfan”, afirma a pesquisadora do Cesteh Paula Sarcinelli.


Entre os vários estudos realizados pelo Cesteh sobre o assunto, destaca-se uma pesquisa segundo a qual mulheres que trabalhavam na agricultura apresentavam risco estatisticamente maior de gerar filhos com peso abaixo do normal. Esse trabalho analisou os prontuários médicos de uma localidade agrícola no interior do Estado do Rio de Janeiro. Outras pesquisas mais recentes abordam a legislação nacional de água para consumo humano e as formas de contaminação dos agrotóxicos. “Falamos de substâncias lipossolúveis, altamente persistentes no organismo e no ambiente, e a exposição tem sido associada, em diversos estudos, à diminuição do desempenho reprodutivo e ao comprometimento do sistema imunológico, além de problemas endócrinos e câncer”, diz Paula. “Esses compostos ficam armazenados no tecido adiposo e são transferidos para o bebê durante a amamentação”, acrescenta.
FONTE: Portal do Ecodebate

Nenhum comentário: